William Tyndale - 6 de outubro

 

PWilliam Tyndale (1483-1536)

William Tyndale (1483-1536)

O pai da Bíblia Inglesa


William Tyndale nasceu aproximadamente em 1483, na vila de North Nibley. Ordenado ao sacerdócio em 1502, ele se distinguiu em Oxford recebendo o seu diploma de Bacharel em Artes, em 1515. Mais tarde ele se transferiu para Cambridge, onde se tornou familiarizado com Erasmo e o seu Novo Testamento Grego. Enquanto atravessava esse tempo de reflexão, Tyndale experimentou uma iluminação espiritual semelhante à de Lutero.

Quanto mais ele estudava esse tesouro recém descoberto, mais acentuada se tornava a sua preocupação no sentido de que os seus companheiros ingleses dele compartilhassem. Foi durante esse período de formação que aconteceu a clássica discussão de Tyndale com um papista fanático. Antagonizado pela sua incapacidade de refutar a racionalização Bíblica de Tyndale, o exasperado sacerdote gritou: “seria melhor que ficássemos sem as leis de Deus do que sem as leis do papa”, ao que Tyndale retorquiu indignado:

Desafio o papa e todas as suas leis; e se Deus me poupar a vida por muitos anos, levarei um garoto que conduz o arado a conhecer mais a Escritura do que vós.

Com essas audaciosas palavras representando a motivação de toda a sua vida, Tyndale decidiu resgatar os seus iletrados patrícios da desesperança e infelicidade do Romanismo, declarando:

Essa causa apenas me conduziu a traduzir o Novo Testamento. Porque eu havia percebido, por experiência, como seria impossível levar o povo leigo à verdade, a não ser que as Escrituras fossem claramente colocadas diante dos seus olhos na língua mãe.

O pedido de Tyndale para se alojar com o renomado Cuthbert Tonstal, Bispo de Londres, recebeu uma fria negativa. Do mesmo modo como o estalajadeiro de Belém negou abrigo à “Palavra Viva” o prelado indiferente fez o mesmo ouvido surdo à “Palavra Escrita”, nenhum deles reconhecendo o tempo de sua visitação.

O Senhor compensou essa humilhação, enviando Tyndale até um comerciante simpático, o qual não apenas abriu sua residência em Londres, para o Reformador, como ainda lhe deu dez libras de presente, pedindo-lhe que orasse por “seu pai, sua mãe, suas alma e todas as almas cristãs”. Contudo seis meses depois do início da tradução, Tyndale detectou uma crescente hostilidade dos oficiais lacaios contra o seu projeto. Grande parte dessa pressão foi atribuída às pazes de Henrique VIII com Roma, a respeito do controvertido pedido de anulação do seu casamento com a “estéril” rainha Catarina. Tyndale conclui com tristeza:

A partir daí, percebi que não apenas no palácio do bispo de Londres, mas em toda a Inglaterra, não havia lugar onde eu pudesse tentar uma tradução das Escrituras.

Em face dessas condições inaceitáveis, Tyndale transferiu-se para a Alemanha, em 1524, sem imaginar que jamais colocaria os pés novamente em solo inglês (Contudo, Foxe chamou Tyndale de “o Apóstolo da Inglaterra”).

Tendo garantido alojamento em Hamburgo, o fugitivo fez uma peregrinação imediata até Wittenberg. O patrocínio negado a Tyndale por Tonstal foi mais do que compensado pelo audacioso Lutero, que iria declarar sem timidez: “Nasci para a guerra e a luta contra as facções e os demônios”.

O Dr. J. R. Green captou o espírito contagiante de Lutero com a narrativa da visita deste a Tyndale:

Encontramo-lo em seu caminho para a cidadezinha que havia repentinamente se tornado a cidade sagrada da Reforma. Estudantes de todas as nações ali se reuniam com um entusiasmo que lembrava aquele dos cruzados. “Quando vinham para ver a cidade”, conta-nos um contemporâneo, “retornavam graças a Deus com as mãos preparadas para de Wittenberg, como a partir de Jerusalém fosse a luz da verdade do evangelho espalhada até aos confins da terra”. Foi por insistência de Lutero que Tyndale ali traduziu os evangelhos e as epístolas.

Tyndale receberia muita coragem para suas futuras experiências da parte do austero alemão, cuja visão pessoal sobre os perturbadores era essa: “você não pode enfrentar um rebelde com a razão. Sua melhor resposta é esmurrá-lo no rosto até que ele sangre pelo nariz”.

Com o coração reanimado, Tyndale iniciou o seu esforço pioneiro de produzir a Bíblia Inglesa traduzida diretamente das línguas originais. Partiu dele uma excepcional concessão para uma tão grandiosa ventura. O professor Herman Buschais descreveu Tyndale para Spalatin como:

Um homem tão versado nas sete línguas: Hebraico, Grego, Latim, Italiano, Espanhol, Inglês e Francês, que qualquer uma que ele falasse poderia dar a impressão de ser a sua língua nativa.

Esta erudição foi confirmada no comparecimento de Tyndale diante dos editores de Colônia, Quental e Byrschmann, antes de completar um ano. Embora desconhecido a Tyndale, o arquinimigo de Lutero, o teólogo católico John Cochlaeus, Deão da Igreja da Bendita Virgem em Frankfurt, seguiu direto em suas pegadas. Quando viu os católicos na Alemanha preparados com Bíblias até às orelhas, Cochlaeus se queixou:

O Novo Testamento de Lutero se multiplicou e espalhou de tal maneira através dos editores que até mesmo alfaiates e sapateiros, sim, até mesmo as mulheres e as pessoas ignorantes, que aceitaram esse novo evangelho luterano e podiam ler um pouco de alemão, estudavam-no, com a maior avidez, como sendo a fonte de toda a verdade. Alguns o memorizaram, carregando-o no íntimo. Em poucos meses esse povo ficou tão letrado que não se envergonhava de debater sobre a fé e o evangelho, não apenas com os leigos católicos, mas até mesmo com os padres e monges e doutores em divindades.

Cochlaeus não podia permitir que esse pesadelo alcançasse a Inglaterra. Certo dia ele escutou por acaso alguns tipógrafos discutindo a respeito da obra de Tyndale. Embriagando-os com uma certa quantidade de vinho, ele ficou perplexo ao descobrir que o Novo Testamento Inglês já estava sendo impresso. Depois de ver apenas dez folhas completadas, Tyndale foi advertido da chegada de magistrados. Auxiliado pelo seu amanuense, William Roye, ele pôde transferir os preciosos documentos para Worms, deixando ao chão um padre frustrado.

Com a comparativa segurança da “retaguarda” oferecida por Lutero, as primeiras três mil cópias do Novo Testamento de Tyndale foram completadas em 1525 pelo editor de Worms – Schoeffer – e contrabandeadas para a Inglaterra, em barris, pilhas de roupa e sacos de farinha. Ao contrário da tradução dos manuscritos latinos de Wycliff, a obra de Tyndale foi diretamente traduzida do Grego e, mais que isso, do Textus Receptus da segunda e terceira edições de Erasmo. (Erasmo havia rejeitado as leituras Alfa e Beta da Vulgata, pavimentando, assim, a estrada para centenas de mártires em Smithfield, os quais iriam morrer por causa do Texto Majoritário).

Tendo sido alertado por Cochlaeus da “importação pendente de perniciosa mercadoria”, o clero inglês ficou de sobreaviso nos portos. Muitas Bíblias foram interceptadas e queimadas em cerimônias, na Saint Paul Cross em Londres, pelo bispo Tonstal, que as chamava de “uma oferta queimada ao Deus Todo Poderoso”.

Esse bispo enfatuado afirmava ter encontrado 2.000 erros na mesma. Sir Thomas More acrescentou: “tentar encontra erros no livro de Tyndale foi o mesmo que tentar água no mar”. More seria degolado mais tarde, como um traidor da pátria.

Sem se intimidar, Tyndale exclamou no espírito do seu mentor alemão:

Ao queimar o Livro eles fizeram exatamente o que eu esperava; provavelmente eles vão também me queimar, se for essa a vontade de Deus.

Contudo, apesar desse diabólico esforço, muitos dos volumes reprovados foram dispersos pela terra (quase 50.000, segundo alguns cálculos). As dores sofridas no sentido de proteger esses Novos Testamentos podem ser vislumbradas através do que um sóbrio cristão escreveu:

Guardas perigosos cheios de whisky,

que em vão buscavam essa coluna,

gozavam de clandestinidade

e esconderijo com sofrimento ansioso.

Enquanto tudo à volta era miséria e escuridão,

Este livros nos mostrava o beijo sem fronteira,

além da tumba,

libertos dos padres venais – do castigo feudal.

Ele permitiu ao sofredor

seus passos fatigados até Deus.

E quando essa sofrida maldição na terra aconteceu

Esta principal riqueza do seu filho desceu.

Que o poder do Novo Testamento de Tyndale foi causa de alarme entre os católicos ficou evidenciado pela carta do bispo de Nikke ao seu superior, na qual se lia em parte: “está além do meu poder, ou de qualquer homem espiritual, impedir isso agora, e se assim continuar por muito tempo, ele a todos nos destruirá”.

Com a cabeça erguida, Tyndale se mudou para Marburg, em 1528, onde ficou sob a proteção de Philip, o Magnânimo, Conde de Hesse. Após ter trabalhado, por quase um ano, no Pentateuco, ele embarcou para Hamburgo, porém sofreu um naufrágio na viagem, perdendo o manuscrito de Deuteronômio recém concluído.

Após uma chegada com atraso em Hamburgo, ele foi residir com Margarete von Emmerson, onde concluiu a tradução de Gênesis até Deuteronômio. Com o seu aparecimento na cidade livre de Antuérpia (para conseguir a impressão desses novos livros), Tyndale arquitetou um plano engenhoso para repor suas urgentes carências financeiras. Já ficou conhecido que o arrogante bispo Tonstal, levado ao desespero pela divulgação do Novo Testamento, havia tentado salvaguardar-se, removendo-os do comércio através de uma compra ilegal. Contudo, sem que Tonstal o soubesse, o comerciante intermediário do qual ele se aproximou, Augustine Pakinghton, era um dos simpatizantes e mantenedores de Tyndale. Foxe o descreve com esta maravilhosa narrativa poética de justiça:

Alguma semanas mais tarde, Pakinghton entrou no humilde alojamento de Tyndale, cujas finanças ele sabia terem se esgotado.

Pakinghton – “Mestre Tyndale, encontrei para vós um bom comprador dos vossos livros.

Tyndale – quem é?

Pakinghton – o senhor bispo de Londres.

Tyndale – mas se o bispo quer esses livros será apenas para queimá-los.

Pakinghton – bem… e então? O bispo os queimará de qualquer maneira e bom seria que conseguíssemos dinheiro para imprimir mais.

Tyndale – ficarei contente por esses benefícios que advirão: vou receber o dinheiro para me livrar dos débitos e o mundo inteiro vai gritar contra a queima da Palavra de Deus. O restante do dinheiro me possibilitará corrigir o dito Novo Testamento, e novamente imprimir o mesmo, confiando em que o segundo será bem melhor do que o primeiro já impresso.

Depois disso, os Novos Testamentos reimpressos logo alcançaram a Inglaterra. Então o bispo mandou procurar novamente Pakinghton indagando como era possível que os livros fossem ainda tão abundantes? “Meu senhor”, respondeu o comerciante, “realmente eu acho que seria melhor que comprásseis também os tipos pelos quais eles são impressos”.

Que esse conselho não foi seguido, nem é preciso declarar.

Com o lucro do seu “mais novo cliente”, Tyndale entregou o seu Pentateuco, em 1530, através da Casa publicadora Hans Luft, de Marburg, com a sua tradução de Jonas sendo publicada na Antuérpia, no ano seguinte.

Por esse tempo a animosidade contra Tyndale havia aumentado consideravelmente. Além das traduções desprezadas, seus diversos ataques verbais contra Roma não estavam lhe angariando muitos amigos: “A parábola do Maligno Mamom”, 1528; “A Obediência de um Cristão” e “Como os Governantes de Cristo Devem Governar”, em 1530; e sua “Prática de Prelados” , também em 1530. Numa de suas notas marginais em Jonas ele comparou a Inglaterra com Nínive.

No ano de 1535, um crédulo Tyndale foi traído por um agente secreto católico, Henry Phillips, o qual havia angariado a confiança do reformador. Depois de tomar um empréstimo de última hora no valor de 40 shillings, de sua generosa vítima, os dois homens seguiram para a pensão de Tyndale, a fim de jantar. O traidor Phillips insistiu pretensiosamente como o seu “amigo”, para ir na frente. Logo que saiu, Phillips, no espírito de Judas Iscariotes, apontou na direção dele pelas costas, como sinal combinado para identificá-lo aos oficiais. O idoso santo foi depressa levado para o calabouço da fortaleza próxima de Vilvorde, dezoito milhas ao norte de Antuérpia.

Como o julgamento do seu Mestre por Pilatos, o caráter de Tyndale era inquestionável, impressionando até mesmo o promotor do Imperador que o levara a considerá-lo “homo doctus, pius, et bonus” (homem sábio, piedoso e bom).

Durante os dezoito meses do seu encarceramento, Tyndale se manteve firme. Um dos documentos mais tristes existentes em toda a história da igreja (tirado dos arquivos do Concílio de Brabant) é uma carta escrita em Latim, pela própria mão do reformador, para o governador de Vilvorde, talvez o Marquês Burgon:

Creio, cheio de legítima adoração, que não estarei despercebido do que pode ter sido determinado com respeito a mim. Daí porque peço a Vossa Senhoria, e isso pelo Senhor Jesus, que se devo permanecer aqui pelo inverno, Vossa Senhoria diga ao comissário que faça a gentileza de enviar-me, dos meus pertences que estão com ele, um boné contra o frio, visto como sinto muito frio na cabeça e sou afligido pelo contínuo catarro, que aumentou muito nesta cela. Também uma capa de inverno, pois a que tenho é muito fina; também uma peça de roupa para agasalhar minhas pernas. Meu sobretudo está gasto; minhas camisas também estão gastas. Ele tem uma camisa de lã e por favor, ma envie. Também tenho com ele perneiras de pano grosso para usar por cima. Ele tem também toucas quentes de dormir.

Peço que me seja permitido ter uma lâmpada à noite. É de fato aterrador ficar sentado sozinho no escuro. Mas, antes de tudo, peço que ele gentilmente me permita ter uma Bíblia hebraica, uma gramática hebraica e um dicionário hebraico, para que eu aproveite o tempo estudando. Em compensação Vossa Senhoria possa conseguir o que mais deseja, contanto que seja apenas para a salvação de sua alma. Mas se qualquer outra decisão foi tomada a meu respeito para ser executada antes do inverno, terei paciência, aceitando a vontade de Deus, para glória da graça do meu Senhor Jesus Cristo, cujo Espírito eu oro que possa dirigir sempre o vosso coração. Amém! Assinado: W. Tyndale

De fato, foi a vontade de Deus que o seu servo passasse ali, não apenas aquele inverno, mas a próxima primavera e também o verão. Temos confiança de que ele conseguiu seus auxílios lingüísticos, visto como deixou atrás dele a tradução completa de Josué até II Crônicas.

Com as folhas do outono de 1536 anunciando a aproximação certa de outro inverno, o tempo da partida de Tyndale havia chegado. Condenado pelo decreto do Imperador, na assembléia de Augsburg, a data de sua execução foi estabelecida para 6 de outubro. Foxe nos transporta até essa cena sombria:

Trazido para o local da execução, ele foi atado à estaca, estrangulado por um carrasco e depois consumido pelo fogo, na cidadezinha de Vilvorde em 1536 d.C., gritando na estaca, em alta voz com fervorosa preocupação: “Senhor, abre os olhos do Rei da Inglaterra!

Quando o fiel Tyndale estava terminando a obra de sua vida, com uma última e incompreensível oração pela iluminação do rei, ele não podia imaginar que a resposta do céu já estava a caminho. McClure relata o miraculoso testemunho de que:

O que foi mais estranho em tudo isso e inexplicável para aqueles dias é que na hora exata em que Tyndale, por obtenção dos eclesiásticos ingleses e pelo tácito consentimento do rei inglês, foi queimado em Vilvorde, uma edição paginada de sua tradução era impressa em Londres, com o seu nome na página titular e por Thomas Berthlet, com a própria patente de impressão do rei. Essa foi a primeira cópia das Escrituras impressa em solo inglês.

Contudo, muito mais significativo do que esse misterioso rasgo da Providência foi a sanção oficial dada pelo próprio Henrique de duas Bíblias Inglesas dentro de um ano, a partir do martírio de Tyndale. A primeira destas foi a Bíblia Coverdale, nomeada segundo o antigo revisor em Antuérpia, Miles Coverdale (1488-1569).

A Bíblia Coverdale mantém a honra exclusiva de ser a primeira Bíblia Inglesa completa já impressa. Como Wycliff, Coverdale era fraco nas língua originais, de modo que sua obra consistiu do Novo Testamento e do Pentateuco, com os demais livros do Velho Testamento sendo conseguidos, primeiramente da tradução alemã de Lutero, com pequeno empréstimo da Vulgata Latina e da Bíblia Suíça de Zurique.

Embora Coverdale tivesse sido forçado a publicar sua primeira edição em Colônia (1535), ele muito prudentemente dedicou-a ao rei da Inglaterra e também teve o cuidado de excluir o estilo controverso das notas marginais associadas com a Bíblia de Tyndale. Não é difícil entender a boa vontade de Henrique de pessoalmente autorizar essa Bíblia (segunda edição da Coverdale de 1537), quando a capa o apresentava sentado e coroado, empunhando uma espada na página dedicatória, creditando-o como “defensor da fé”. A diplomacia de Coverdale coincidia com a recente quebra do controle de Roma sobre as igrejas inglesas. Embora sem renunciar às doutrinas católicas o Ato de Supremacia aprovado pelo Parlamento em 11/11/1534, foi certamente o passo mais importante em direção à Reforma Inglesa.

A segunda Bíblia a receber sanção especial naquele ano foi outra aventura discreta. Conhecida como a Bíblia de Mateus, essa tradução foi realmente feita por John Rogers (1500-1555), o qual usou o pseudônimo de Thomas Matthews, em vista de sua bem conhecida associação com Tyndale. O melhoramento fundamental da Bíblia de Matthews foi a inclusão das obras de Tyndale “escritas no cárcere” – Josué e 2 Crônicas. Com o Pentateuco de Tyndale e o Novo Testamento basicamente intactos, a Bíblia Coverdale preencheu o vácuo, visto como Rogers assegurou alguma assistência das versões francesas de Le Fevre e Olivertan. Como a Bíblia Coverdale, a de Rogers foi também autorizada pelo rei, que tornou legal que a mesma pudesse ser comprada, lida, reimpressa e vendida. Do lado mais claro, a Bíblia de Mateus é algo referido como “a Bíblia do homem que apanha da mulher”, por causa da nota, fora de época, em 1 Pedro 3:1, onde se lê: “Semelhantemente, vós, mulheres, sede sujeitas aos vossos próprios maridos; para que também, se alguns obedecem à palavra, pelo porte de suas mulheres sejam ganhos sem palavra”.

Logo depois veio a Grande Bíblia de 1538, nomeada conforme o seu tamanho especial (16″ por 11″). Ela era basicamente uma revisão da Bíblia de Mateus feita por Miles Coverdale, com pouca mudança, exceto pela remoção das notas marginais controversas de Rogers. A Grande Bíblia teve a distinção de ser a primeira Bíblia oficialmente autorizada para uso público nas igrejas da Inglaterra, pelo que foi exigido que ela fosse literalmente acorrentada a uma parte do mobiliário da igreja, onde os paroquianos tinham “acesso à mesma para ler”.

Com a obesidade de Henrique forçando-o provavelmente a pensar na eternidade (tendo engordado tanto que precisava ser levantado com roldanas para montar no cavalo), o rei sancionou oficialmente a Grande Bíblia com: “Em nome de Deus, deixe-a partir para o estrangeiro, junto do nosso povo”. Sem dúvida, Tyndale teria dado uma risada, por razões óbvias. Em janeiro de 1547, o próprio Henrique partiu desta terra.

A Inglaterra começou a surgir cultural e politicamente com o fim de inúmeras guerras internas. Os Tudors, especialmente Henrique VIII, fizeram da Inglaterra uma potência mundial. Forças poderosas estavam trabalhando para tirar o mundo da Idade das Trevas quando a luz da Palavra de Deus começou a brilhar.

Imprensa de impressão inicialPrimeiro, a invenção da prensa tipográfica em 1450 dC e dos tipos móveis em 1455 tornaram possível a divulgação da Bíblia impressa. Além disso, com o surgimento de uma classe mercantil na Inglaterra, mais e mais pessoas da classe média foram educadas para ler. A queda de Constantinopla em 1453 para os turcos desbloqueou milhares de manuscritos gregos e latinos até então desconhecidos. À medida que os estudiosos fugiam dos turcos com seus manuscritos em mãos, eles provocaram um "renascimento" de um novo interesse pelo grego e pelo latim em toda a Europa. Em última análise, isso fez com que um professor da Universidade de Paris preparasse um texto impresso do Novo Testamento usando vários manuscritos gregos. O resultado é o Novo Testamento grego de Erasmus, 1516 dC, que foi usado para preparar a primeira tradução inglesa da Bíblia diretamente do grego.

Página de rosto, 1534 Bíblia de Martinho LuteroDurante o mesmo período, as coisas também estavam se mexendo na Alemanha. Em 1517, Martinho Lutero pregou suas noventa e cinco teses na porta da igreja de Wittenburg, atacando inúmeras doutrinas e práticas da Igreja. Lutero, professor de Teologia na Universidade de Wittenburg, também escreveu muitas outras obras. Ele é mais conhecido por denunciar o ensino de que a salvação poderia ser conquistada por obras, ensinando em vez disso o que a Bíblia diz: que a salvação é somente pela fé, sem obras (Romanos 3:28). Certos clérigos da Igreja estavam se aproveitando da ingorância das Escrituras do homem comum, já que não havia Bíblias no vernáculo, e ensinando que se deve comprar indulgências para obter a salvação, ou para libertar o ente querido do purgatório para o céu. Desta forma, esses clérigos enriqueceram com a ignorância e a fé cega do povo. Martinho Lutero e muitos outros ficaram horrorizados. O ato mais ousado de Lutero procurou destruir o abuso de poder do clero: a tradução da Bíblia para o alemão. Ele não foi o primeiro a traduzir a Bíblia para o alemão, mas foi o primeiro a fazer um estudo completo e acadêmico do texto em latim, grego e hebraico e traduzi-los para o idioma alemão falado nas ruas pelos alemães comuns. Ele disse: "Não devemos... perguntar às letras latinas como devemos falar alemão, mas devemos perguntar à mãe em casa, às crianças na rua, ao homem comum no mercado sobre isso, e olhá-los em a boca para ver como eles falam, e depois fazer a nossa tradução." Lutero foi excomungado e banido pela Igreja Romana por seus ensinamentos, mas durante sua vida foram distribuídas cerca de 100.000 cópias de seu Novo Testamento em alemão. A luz da Palavra de Deus brilhando na Alemanha seria mais tarde denominada pelos historiadores como o início da "Reforma".

Retrato de William TyndalePara este palco do drama designado por Deus andou um homem de origem humilde, mas educação superior - William Tyndale. Nascido em Gloucestershire, Inglaterra, no início da década de 1490 e educado em Oxford e Cambridge (onde estudou com Erasmus), Tyndale era tão fluente em 7 idiomas que você não poderia dizer qual era sua língua nativa. Como outros homens de seu tempo, ele começou a questionar os abusos e a corrupção da Igreja. Deus acendeu um fogo no coração de Tyndale para fornecer a Palavra de Deus na língua do povo da Inglaterra. Enquanto trabalhava como tutor, Tyndale respondeu ao desafio de um bispo de que "seríamos melhores sem a lei de Deus do que (sem) a do Papa" , retrucando:"Desafio o Papa e todas as suas leis; se Deus poupar minha vida daqui a muitos anos, farei com que um menino que conduz o arado conheça mais das Escrituras do que você." Tyndale deixou sua posição de tutor e viajou para Londres para obter permissão para traduzir a Bíblia do Bispo de Londres. Para ajudar a eliminar a influência dos lolardos de Wycliffe, uma lei foi aprovada em 1408 tornando punível com a morte traduzir a Bíblia para o inglês, e o bispo não estava disposto a mudar essa lei. Logo ficou claro que nenhum lugar na Inglaterra era seguro para Tyndale traduzir a Bíblia, então ele deixou a Inglaterra para nunca mais voltar.

Página de um Tyndale 1552 com xilogravuraCom um preço por sua cabeça, ele viajou disfarçado e em segredo por toda a Alemanha enquanto completava seu trabalho de tradução. Ele visitou Lutero e, embora eles concordassem firmemente com a Sola Scriptura ("Somente as Escrituras" para orientação na fé cristã), eles não concordavam com outras doutrinas, e assim cada um percorreu seus próprios caminhos. Tyndale completou o Novo Testamento no final de 1525 e começou a perigosa tarefa de contrabandeá-los para a Inglaterra de todas as maneiras possíveis. Providencialmente, as docas de Londres estavam nas mãos de muitos alemães amigos da Reforma e o Novo Testamento logo chegou às mãos ansiosas do povo inglês. Eles também despertaram a ira do clero. Agora as pessoas comuns podiam ler a verdade da Palavra de Deus por si mesmas. O que começou como uma pequena faísca com John Wycliffe se tornou um fogo ardente que atingiu até o quarto do rei! Ana Bolena, esposa do rei Henrique VIII, não só tinha uma cópia do livro de TyndaleObedience of the Christian Man, que ela deu como presente ao rei, bem como sua própria cópia do Novo Testamento de Tyndale de 1534. Embora externamente ele se opusesse à "reforma", convinha a Henrique VIII usá-la para obter o divórcio de sua esposa católica (para que ele pudesse se casar com Ana), remover o papa como chefe da Igreja e reivindicar esse título (assim como a riqueza) para si mesmo. No entanto, o rei continuou a se opor a Tyndale e suas Bíblias, e Tyndale teve que continuar contrabandeando suas Bíblias para a Inglaterra ilegalmente.

Tydale sendo queimado: "Senhor, abra os olhos do rei da Inglaterra."Tyndale estava constantemente revisando seu trabalho no Novo Testamento (com sua edição de 1534 considerada a melhor) enquanto traduzia o Antigo Testamento também. Em 1530, completou o Pentateuco; em 1531, o livro de Jonas. Ele fez todo esse trabalho enquanto estava escondido, constantemente fugindo da multidão de espiões e caçadores de recompensas enviados por Roma e Henrique VIII para encontrá-lo e matá-lo. Finalmente, foi traído por um amigo, preso no Castelo de Vilvorde e julgado por heresia por Roma. Após 18 meses de prisão, ele foi estrangulado e queimado na fogueira em 6 de outubro de 1536 DC Com uma palavra final, William Tyndale orou "Senhor, abra os olhos do rei da Inglaterra".Essa famosa oração logo seria respondida quando o rei mudasse de ideia. Em 1537, o rei Henrique VIII concedeu sua aprovação para uma Bíblia em inglês, a segunda edição da Bíblia Coverdale, a ser distribuída por toda a Inglaterra. Mal sabia Henry que mais de 70% daquela Bíblia era obra de Tyndale - o mesmo homem que ele havia condenado à morte apenas um ano antes.

Devemos muito a William Tyndale. Ele se dedicou à tarefa de dar a Bíblia ao homem comum em uma linguagem que ele pudesse entender e nunca olhou para trás. Traduziu sozinho sem o conforto de amigos ou familiares e pagou com a vida, sem nunca saber o impacto que ele e seu trabalho teriam no mundo. As traduções de Tyndale também foram de boa qualidade: mais de 90% de suas palavras aparecem na King James Version publicada quase 100 anos depois e 75% de suas palavras aparecem na Revised Standard Version de 1952. Ele é legitimamente chamado de Pai do Bíblia inglesa.

Fonte:http://biblemuseum.com/church-displays 


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