7 de agosto – João Yasoji Ito
Published on quinta-feira, 05 agosto
2021 20:57
Traços nipônicos no rosto do protestantismo brasileiro
Ensaio sobre a vida de João Yasoji Ito
Japanese traces in brazilian protestantism’s face
Essay about João Yasoji Ito’s life
Recebido: 16/09/2018 | Aceito: 10/05/2019
Júlio César Tavares Dias1
Resumo: A partir do ano de 1908, começam a chegar ao Brasil imigrantes
japoneses que se dedicaram a agricultura e estabeleceram colônias
principalmente no estado de São Paulo. Para lhes prestar assistência
espiritual, decide vir também do Japão o missionário anglicano João Yasoji Ito,
cujo empenho evangelizador se mostra eficaz, pois muitos se converteram. Ito
desempenhou várias atividades em prol de sua missão e buscou que as comunidades
que fundou não fossem reconhecidas como igrejas dos japoneses, mas se
incorporassem à sociedade brasileira. Esse representa um importante episódio da
história do protestantismo no Brasil, uma vez que essa história é geralmente
ligada à vinda de missionários da América do Norte.
Palavras-chave: anglicanismo; protestantismo; imigração japonesa;
evangelização; liderança evangélica.
Abstract: Since 1908 Japanese immigrants begun to arrive to Brazil. They worked
in agriculture and stablished colonies principally in the state of São Paulo.
João Yasoji Ito, Anglican missionary, decided to come from Japan for give them
spiritual help. His missional efforts were much efficient, because many
immigrants converted. Ito developed a lot of activities and looked for communities
founded by him weren’t known as Japanese churches, but they were embodied to
Brazilian society. This represents an important episode in Protestantism
History in Brazil, usually associated to coming of missionaries from North
America.
Keywords: Anglicanism; Protestantism; Japanese immigration; evangelization;
evangelical leadership.
Primeiras Palavras2
“Ele preserva as narrativas dos homens renomados”
Eclesiástico 39,2
1 Doutor em Ciência da Religião pela UFJF, Mestre em Ciência da Religião pela Universidade
Católica de Pernambuco (UNICAP), Licenciado em Letras pela Universidade de
Pernambuco (2007) e Bacharel em Filosofia pela Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE). E-mail: juliocesartdias@hotmail.com.
2 Antes de submetido a publicação este texto foi apreciado pelos olhos
competentes da Revda. Carmen Kawano, cujos trabalhos aparecem nas referências,
a quem é preciso agradecer. Também agradecemos a Breno Henrique da Silva
Ricardo, aluno do Mestrado em História Social da Universidade de São Paulo,
pela leitura atenta visando à revisão textual.
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A imagem de um rosto plural cai muito bem ao mundo evangélico, por esse ter se
dividido em muitas denominações. No Brasil, esse rosto é peculiar pois, marcado
principalmente por traços norte-americanos, queremos delinear traços japoneses:
poderíamos quiçá falar de um protestantismo nikkei, isto é, nipo-brasileiro. No
nosso cotidiano, podemos encontrar aqui ou ali a influência japonesa, seja na
culinária – aliás, em qualquer praça de alimentação de qualquer shopping center
do Brasil, é possível encontrar a alternativa de comer um sushi – mas também o
extremo oriente tem seu lugar na indústria de entretenimento com seus animes e
mangás, que agradam tanto a um parcela do público juvenil que alguns jovens se
tornam otaku3. Mas, além desses traços culturais, os japoneses trouxeram para o
Brasil também suas religiões e, entre eles, alguns eram cristãos, mais
especificamente, alguns eram protestantes, e mais especificamente, alguns eram
anglicanos.
Conforme Ozaki (1990, p. 11), “a imigração japonesa para o Brasil começou
oficialmente em 1908 com a chegada do navio ‘Kasato-maru’, que aportou em
Santos no dia 18 de junho do mesmo ano, trazendo a bordo o primeiro grupo de
168 famílias, totalizando 781 pessoas”. Este ano completam-se 110 anos de
imigração japonesa. Quando da comemoração do centenário da imigração japonesa e
dos 75 da Paróquia de São João, a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB)
providenciou publicar um livro, escrito pela Rev. Carmen Kawano, contando a
vida do Rev. João Yasoji Ito, missionário japonês que fundou várias paróquias
em São Paulo (inclusive a Paróquia de São João) e atuou também no Paraná.
Queremos contribuir para o desenho do rosto do protestantismo no Brasil.
Faremos isso a partir de um ensaio biográfico sobre o Rev. Ito, que veio ao nosso
país, por seu próprio custo, para prestar assistência espiritual aos
imigrantes, seus co-patrícios. Por meio do seu trabalho contínuo de
evangelização, muitos deixaram suas antigas religiões e se tornaram cristãos.
Conforme Peter Burke (1997, p. 91),
a idéia de uma vida “escrita” pode ser encontrada na Idade Média. O termo
biographia foi cunhado na Grécia no fim do período antigo. Antes disso,
falava-se em escrever “vidas” (bioi). Em sua biografIa de Alexandre o Grande,
Plutarco faz uma distinção importante entre escrcever história narrativa e
escrever “vidas”, como ele mesmo estava fazendo. Nas ”vidas” havia espaço para
abordar tanto a esfera privada quanto a pública, para descrever a personalidade
individual através de pequenas pistas, “algo pequeno como uma frase ou um
chiste”.
Esta distinção de Plutarco foi depois constantemente retomada:
Amyot no prefácio de sua tradução, explicando que a história se ocupa dos
feitos dos homens, enquanto a função da biografIa é esclarecer “leur nature,
leurs dits et les moeurs”. Montaigne, em seus Ensaios (livro 2, cap. 10), bateu
na mesma tecla a defender Plutarco contra seus críticos, elogiando-o por se
preocupar com a vida interior (“ce qui part du dedans”), ao invés de
3 É um termo usado para aqueles que têm interesse por elementos da cultura
japonesa, principalmente animes e mangás.
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se voltar para o acidente dos eventos externos (“ce qui arrive au dehors’)
(BURKE, 1997, p. 91).
Conforme Sérgio Costa (2018, p. 20-25), em seu Dicionário dos Gêneros Textuais,
o gênero biografia está ligado a capacidade linguística de narrar (segundo a
tipologia de Schnewly, Dolz e seus colaboradores) e ao discurso literário
(segundo tipologia que o próprio Sérgio Costa elabora, observando tanto o
conceito de gênero textual quanto o de gênero discursivo). Lemos o verbete
biografia em seu dicionário: “narração oral, escrita ou visual dos fatos
particulares da vida de uma pessoa […] em livro, filme, texto teatral, disco
óptico, etc. Quanto à forma pode ser elaborada em forma cronológica ou em forma
narrativa” (COSTA, 2018). Mais importante do que uma definição da biografia
enquanto gênero textual, é-nos importante inteirar-nos das discussões sobre sua
valia para o ofício do pesquisador.
Conforme Mary Del Priore (2009, p. 7), “até a metade do século XX, sem ser de
todo abandonada, ela [a biografia] era vista como um gênero velhusco,
convencional e ultrapassado por uma geração devotada a abordagens quantitativas
e economicistas”. Conforme a historiadora, a biografia caminhou das histórias
dos heróis gregos contadas por Herodoto e Tucídides para a hagiografia, sendo
nos dois casos modos de “incentivar modelos aos leitores” (DEL PRIORE, 2009, p.
7).
Com o Renascimento, o mundo social mudou o seu núcleo: o individualismo se
afirmou e não deixou de se afirmar nos séculos seguintes, quando virou moda
escrever “sobre sua vida”. O herói medieval, no século XVIII, foi substituído
pelos grands hommes que “contrariamente ao herói, o ‘grande homem’ tinha que
ter uma função: ser proveitoso à sociedade” (DEL PRIORE, 2009, p. 8). As ideias
de “nação”, no século XIX, contaram, para sua construção, com biografias de
heróis e monarcas. Já no início do século XX, sobre a influência de Marc Bloch
e Lucien Fébvre, “ao minimizar a história política, diplomática, militar ou
eclesiástica que evidenciava o indivíduo e o fato, a Nova História, nascida dos
Annales nos anos 60, optou por privilegiar o ‘fato social total’ em todas as
suas dimensões econômicas, sociais, culturais e espirituais” (DEL PRIORE, 2009,
p. 8).
Convém agora verificarmos como se deu o atual reencantamento dos historiadores
com a biografia. Lucien Fébvre, autor de biografia de Lutero e Rabelais, foi
pioneiro nesta retomada, advogando uma “biografia modal”. Para ele, “os homens,
únicos objetos da história […] sempre capturados no quadro das sociedades a que
pertencem” (apud DEL PRIORE, p. 9, grifo nosso). Porém, só nos anos 70 e 80, teve
fim a rejeição histórica da biografia. Foi quando “o fenecimento das análises
marxistas e deterministas, que engessaram por décadas a produção
historiográfica, permitiu dar espaço aos atores e suas contingências novamente”
(DEL PRIORE, 2009, p. 9). Mas foi a crítica que fez Pierre Bordieu, em um texto
seu antológico, A Ilusão Biográfica, publicado em 1986 nas Actes de la
Recherche en Scíences Socíales, que desafiou os historiadores a pensar a partir
de novos ângulos a biografia.
Para Bourdieu (2005), “falar de história de vida é pelo menos pressupor – e
isso não é pouco – que a vida é uma história […] É exatamente o que diz o senso
comum, isto é, a linguagem simples”. A crítica é de que o ofício
historiográfico estava caindo em um http://revistas.pucsp.br/culturateo
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simplismo. Os historiadores reagiram, reinventando a biografia: não eram mais
apenas os grandes homens o seu objeto, nem ela se colocava como quase um
sinônimo da hagiografia:
A biografia não era mais a de um indivíduo isolado, mas a história de uma época
vista através de um indivíduo ou de um grupo de indivíduos. Ele ou eles não
eram mais apresentados como heróis, na encruzilhada de fatos, mas como uma
espécie de receptáculo de correntes de pensamento e de movimentos que a
narrativa de suas vidas torna mais palpáveis, deixando mais tangível a
significação histórica geral de uma vida individual (DEL PRIORE, 2009, p. 9).
Isso é o que acreditamos poder fazer a partir da história de vida de João
Yasoji Ito. Descrevê-lo como um santo não é nosso intento, mas, a partir dele,
vermos como os imigrantes japoneses foram reconstruindo seu mundo,
principalmente pelo recurso da conversão ao anglicanismo.
Anglicanismo na Terra do Sol Nascente e no país do futuro
“Pois do Levante ao Poente grande é o meu nome entre as nações”
Malaquias 1,11
O Anglicanismo não é a denominação protestante entre nós mais conhecida4. São
cerca de 100 mil anglicanos no Brasil. O nome anglicano normalmente é logo
associado a uma postura progressista, liberal, à ordenação de mulheres e à
ideia de que é a igreja da rainha da Inglaterra. O Conselho Mundial de Igrejas
reunido em 1948 afirmara que “o abismo que nos separa são as tradições
protestante e católica”. Assim, a espiritualidade anglicana tem um testemunho
ímpar no seio da cristandade, por se constituir como uma “via média”5,
procurando “manter unidas, numa comunhão visível e espiritual, ambas as
tradições” (IEAB, 1960, p. 52).
Talvez alguém, ao ouvir o nome anglicano, lembre ainda algo de uma aula na
escola em que ouviu falar que se trata da igreja fundada pelo rei inglês
Henrique VIII, cuja motivação seria por ter seu pedido de divórcio6 negado pelo
Papa. Isso não
4 Os interessados em conhecer mais a Igreja Episcopal Anglicana no Brasil
(IEAB) podem ter dela uma rápida apresentação assistindo os documentários
produzidos pela TV Brasil, para o programa Retratos de Fé, o realizado pelo
Observatório da Religião da UNICAP, e o da jornalista Débora Settim. Uma
apresentação do ethos e da fé anglicana é feita no livro de John Baycroft
(2009), distribuído pela Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB), em
linguagem bastante acessível “como uma simples receita no verso de uma caixa de
massas prontas para fazer bolo” (BAYCROFT, 2009, p. 9) e também, em Inglês, no
livro de Mark Chapman (2006). Essas são sugestões que levam em conta a
linguagem bastante acessível mais que o rigor acadêmico.
5 Isso às vezes nos faz questionar sobre a exatidão de considerar o
anglicanismo como parte do protestantismo. Talvez seja, na verdade, uma
“terceira via”, ou seja, de tanto que é católica e reformada, não é nem
católica nem reformada, mas uma outra igreja, como é a Igreja Ortodoxa. Quem
sabe o caso seja que ela é católica demais para os protestantes e protestante
demais para os católicos!
6 O argumento partia da injunção bíblica que não permitia a um homem casar com
a mulher de seu irmão (Lv 20,21). “Since Katherine had been married to Henry’s
brother Arthur, this would have had the effect of nullifying his marriage”
(CHAPMAN, 2006, p. 15).
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responde bem às origens da Igreja Anglicana. Na verdade, essa separação da
Igreja da Inglaterra do catolicismo, em 1534, não significou, a princípio, mais
do que uma mudança de mandatário: do papa para o rei. A igreja continuava
praticamente a mesma. Além disso, quando o catolicismo chegou à Inglaterra7, já
havia de muitos tempos cristãos, que tinham uma igreja já organizada, a qual
nunca chegou a ser bem absolvida pela recém-chegada Igreja Romana8. Por meio de
contatos com luteranos e calvinistas da Europa Continental, a teologia e a
liturgia foram reformuladas, surgindo, em 1549, o primeiro Book of Common
Prayer, que é o livro de liturgia da igreja anglicana, e os “39 Artigos de
Religião”, que é uma declaração doutrinária da Igreja da Inglaterra9. Nos
séculos XIX e XX, a Igreja da Inglaterra acompanhou a expansão do Império
Britânico, estabelecendo-se na Austrália, Nova Zelândia, África, Ásia,
Hong-Kong, Índia, América do Sul e Central, etc (CALVANI, 2005, p. 38-39).
Nippon Seikokai. O cristianismo chegou no Japão em 1549, através do jesuíta
Francisco Xavier em Kagoshima, e foi bem aceito pelos japoneses que o entendiam
“apenas como uma forma de budismo” (FREDÉRIC, 2008, p. 201). Inicialmente bem
aceito, o cristianismo foi depois perseguido e guetizado, inclusive quando o
país se fechou10 em 1639, situação que foi mudada, apenas em 1868, com a restauração
do poder do imperador, quando vários missionários americanos chegaram ao Japão.
Nesse país, a Igreja Anglicana tem o nome de Nippon Sei Ko Kai (NSKK), fundada
por missionários americanos (1859) e ingleses (1869 e 1873) que se uniram em
1887. Essa denominação dirige a universidade Rikkiô em Tóquio e a universidade
Momoyana Gakuin em Osaka, além de diversos hospitais e institutos de caridade
(FREDÉRIC, 2008, p. 1019). Não muito dada ao proselitismo11, a Seikokai se
dedicou unicamente a obras sociais. Embora não demograficamente expressivo12, o
cristianismo permanece muito ativo no Japão (FREDÉRIC, 2008, p. 202).
Imbuída de um senso de dever para com a nação, no tempo da expansão imperial
japonesa, a NSKK enviou missionários a Taiwan, Coréia e Manchúria, dirigindo
atenção principalmente aos japoneses expatriados (KAYE, 2008, p. 58).
Acreditando que a nação japonesa estava destinada a ser a maior potência
asiática, acreditava-se que era seu dever iluminar a esperança da civilização
pelos seus países próximos, para o que a ação missionária desenvolveria
importante papel (KAYE, 2008, p. 59). O primeiro Sínodo Geral da NSKK aconteceu
em Osaka em 1887 e os seus primeiros bispos foram
7 Foi Agostinho (de Cantuária, e, não, o de Hipona) quem, em 596, levou as Boas
Novas de Roma para o sul da Grã-Bretanha.
8 “A Igreja da Inglaterra não era uma Igreja nova, que teria sido estabelecida
na época da Reforma. A Igreja da Inglaterra era a mesma antiga Igreja que se
recusou a aceitar a jurisdição do Bispo de Roma no território inglês”
(BAYCROFT, 2009, p. 55).
9 Nas igrejas anglicanas de outros países (chamadas províncias) os 39 artigos
de Religião são um documento histórico, mas, não, normativo.
10 Foram mais de duzentos anos de reclusão voluntária do Japão (sakoku) para o
Ocidente. Pressionado pelo Comodoro Mathew C. Perry, representante dos Estados
Unidos, o governo japonês abriu seus portos ao comércio norte-americano,
firmando o Tratado de Kanagawa em 1854 (DEZEM, 2005, p. 129).
11 Mesmo que fosse, “the Japanese government would not allow proselytising, a
rule which remained until 1871” (KAYE, 2008, p. 58).
12 O sucesso da recuperação sócio-econômica do país das cerejeiras após a 2ª
Guerra Mundial, ao ser atribuída às religiões tradicionais, freou o sucesso da
expansão do cristianismo.
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consagrados em 1923. Alcançou sua autonomia em 1972. Durante a 2ª Guerra
Mundial13, a igreja esteve debaixo de muita pressão, chegando o governo japonês
a expulsar todo clero estrangeiro em 1942 (NSKK). A Lei de Corporação
Religiosa, de 1939, demandava que todos os grupos cristãos deveriam juntar-se,
a despeito de suas diferenças, em uma única igreja, a Koydan (Igreja Unida). O
Bispo Sasaki, ao tentar uma exceção para a NSKK, foi preso. Liberto após
terminada a guerra, tornou-se uma figura importante na restauração da NSKK,
pois um terço dela havia se juntado a Koydan (KAYE, 2008, p. 59). Hoje a NSKK é
formada por cerca de 300 igrejas, divididas em 11 dioceses, tem 230 clérigos e
cerca de 32 mil membros (NSKK).
No País do Futuro14. Salienta Calvani (2005) que, peculiarmente, a Igreja
Episcopal Anglicana do Brasil não se encaixa na tradicional classificação de
Antônio Gouveia Mendonça de protestantismo de imigração e de missão. Mais
antiga denominação protestante no Brasil, o anglicanismo no Brasil começou com
as capelanias inglesas. Depois vieram missionários norte-americanos que
começaram a fazer evangelização em Porto Alegre. Por muito, essas duas
vertentes caminharam paralelas até que se uniram15, semelhantemente, como
vimos, ao que aconteceu no país das cerejeiras. Em 1810, Brasil e Inglaterra
assinaram um tratado de amizade e comércio. A partir daí que puderam se
estabelecer, no Brasil, as capelanias inglesas, com algumas restrições: “desde
que essas realizassem os cultos em inglês, fossem freqüentadas apenas por
britânicos e não tivessem aparência exterior de templo” (CALVANI, 2005, p. 40).
Em 1819, foi inaugurada a Christ Church, primeira capela anglicana no Brasil,
no Rio de Janeiro. Em 1889, chegaram ao Brasil Lucien Lee Kinsolving e James
Watson Morris, missionários americanos. Só em 1965, a igreja obteve autonomia,
passando a se chamar Igreja Episcopal do Brasil. Só em 1990, passou a se chamar
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil.
Anos de formação16
“Não tenhas medo, pois eu te resgatei, te chamei pelo teu nome, tu és meu”
Isaías 43,1
13 Veremos adiante que, no Brasil, as comunidades anglicanas de origem japonesa
também passaram por muitos percalços.
14 Foi o austríaco Stefan Zweig, auto-exilado no Brasil na década de 1940, quem
primeiro se referiu ao país como “país do futuro”. As conferências e teses
apresentadas por ocasião do primeiro congresso da Igreja Episcopal (como até
então se chamava) foram publicadas em livro intitulado “A Igreja Episcopal no
País do Futuro” (1960). Mais do que isso, importante é que os imigrantes assim
viam o Brasil, um lugar para recomeçar.
15 Diferente do que aconteceu com o luteranismo, representado no Brasil por uma
vertente de imigração alemã (Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil
– IECLB) e uma vertente de missão norte-americana (Igreja Evangélica Luterana
do Brasil – IELB).
16 Os dados sobre a vida do reverendo João Yasoji Ito que aqui expomos são
provenientes principalmente dos livros de Carmem Kawano (2008 e 2010), mas
também do testemunho que escreveu o reverendo Estevam Shigueru Yuba (1993) e do
documentário produzido pela jornalista Débora Settim (2016).
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Infância, juventude e estudos. Curiosamente, o nome Yasoji soa parecido com o
nome ‘cristão’ em japonês. Por isso, meninos incomodavam Ito, ainda pequeno,
chamando-o de cristão17, como forma de xingamento. Havia poucos cristãos no
Japão. Podemos deduzir que não eram muito bem quistos pela sociedade em geral.
De certa forma, então, foi devido ao seu nome que Ito veio a se tornar cristão.
Yasoji Ito nasceu em 3 de dezembro de 1888, em Kami Ina-gun, aldeia campestre,
na província que passou a se chamar Nagano. Segundo filho do casal Kenzo e
Futsu, Ito perdeu a mãe muito cedo, aos 4 ou 5 anos. Por isso, foi criado pelos
avós de quem recebeu muita influência, principalmente da avó, que costumava
sempre ir ao templo xintoísta. Observando-a orar humildemente, surgiram em Ito
os primeiros sentimentos religiosos.
Seus primeiros estudos foram na Escola de Miwa Mura, passando em 1900 para a
Escola de Takato, onde fez o curso primário superior, concluído em 1904. Yasoji
Ito passa a ajudar sua família na lavoura e a estudar inglês na igreja
metodista da cidade, onde teve seu primeiro contato com a Bíblia e aprendeu a
vida de Jesus. Sempre Ito esteve ligado ao trabalho do campo, o que lhe virá a
ser muito importante quando missionário. Quando empreitou uma escalada na
companhia de seu irmão mais velho, de um primo e de um amigo, teve uma
“epifania”: a vista do cume do Monte Fuji, com nuvens elevadas muito acima
dele, inspirou no grupo um sentimento de sagrado, de modo que todos os três
instintivamente se ajoelharam. “Desde então, a experiência espiritual dessa
ocasião dominou minha longa vida”. Quando voltou, uma decisão foi tomada:
passou a frequentar a Igreja Metodista na cidade de Takato. “Por mais que os
aldeões me criticassem, consegui decidir-me a seguir firme o caminho da fé”,
escreveu (cf. KAWANO, 2010).
Em 1907, o jovem Yasoji ingressou na Escola de Navegação, aspirando ser um dia
oficial. Passava a maior parte dos dias no mar, dividido entre as mais
diferentes tarefas, tanto administrativas, quanto braçais. Porém, quando em
terra, em seus dias de folga, frequentava diferentes igrejas, de diferentes
denominações. Em 10 de setembro de 1908, por ter sido atingido por uma
tempestade, o navio naufragou. Apenas Yasoji, o comandante do navio e o chefe
dos marinheiros conseguiram sobreviver. Durante os quatro dias que passou no
mar, agarrado a uma tora de madeira, Yasoji rezou, pediu a Deus que o salvasse
e, então, dedicaria a vida ao seu serviço. Foi um barco pesqueiro que os
avistou e os levou a terra firme. Salvo do mar e acolhido pela família do
piloto do barco, sentiu-se “nos braços afetuosos do Pai”.
Muitos líderes cristãos se sentiram chamados para uma missão após uma
experiência assim dramática18. Max Weber (1999) falara dos tipos de dominação
ou liderança, sendo uma delas a liderança carismática. Para Weber, a força e
estabilidade da liderança advém de sua legitimidade. Acreditamos que uma das
fontes do carisma são experiências traumáticas, como as de quase morte e grande
perigo, mas em que se experiencia um “salvamento” ou “livramento”. De
experiências assim, advêm uma fé inabalável, um ânimo resiliente e uma virtude
heroica que legitimam o líder.
17 Chamavam-no “Yasoji, Yaso Kyo”, isto é, “Yasoji, o cristão” (KAWANO, 2010,
p. 6).
18 O Apóstolo Paulo sentiu-se chamado após cair de um cavalo e ficar cego (At
9); Martinho Lutero, quando se encontrou no meio de uma tempestade.
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Impressionado com o que passara no mar, convenceu-se de que Deus tinha
realmente reservado algo para sua vida. Passou a frequentar a Paróquia
Anglicana de São Salvador, na cidade de Shirakamibashi, em Osaka, onde recebeu
o batismo em 25 de dezembro de 1910. Após concluir o curso na Escola de
Navegação, ingressou no Seminário Anglicano da Santíssima Trindade, em Osaka,
em março de 1911, sendo depois de três anos transferido a Tóquio, devido a uma
fusão que houve dos seminários do Japão, para mais três anos de estudos. No
entanto, devido a problemas de saúde – aliás desde o nascimento foi tido como
de saúde frágil – atrasou sua formação, pois teve que interromper o curso por
um período de dois anos para tratamento. Quando voltou para o seminário, todos
os amigos já haviam se formado.
Apesar de sua saúde frágil, Yasoji em todos os verões ajudava a família na
lavoura. Compensava sua fragilidade com uma enorme força de vontade. Desde os
tempos de seminário, já tinha certo o desejo de ser missionário no exterior,
pois, com o aumento da emigração, que ocorreu para aliviar a crise demográfica
e os consequentes problemas sociais – inclusive dois de seus irmãos e muitos de
sua província já haviam emigrado –, essas pessoas teriam, nas colônias que
formavam, seu sucesso ou fracasso dependente da vida espiritual.
Preparação de Ito para vir ao Brasil. Ito formou-se em 1919, mas não encontrou
apoio de pronto para vir ao Brasil como missionário. Foi designado para uma
paróquia anglicana no sul de seu país, onde trabalhou de abril a setembro de
1919. Foi nesse ano que seus irmãos emigraram para o Brasil, vindo para a
Colônia de Registro, no sudeste de São Paulo. Ito foi se despedir de seus
irmãos no Porto de Kobe. No trem, encontrou Kaniho Nakamura, primeiro cidadão
de Nagano a emigrar, que lhe mostrou um baú contendo cartas e fotos dos
japoneses no Brasil e disse: “Temos somente notícias tristes que vem de lá.
Isso se deve a falta de esteio e tranquilidade espiritual. Você é a pessoa mais
apta para ir ao Brasil. Ito, entre de corpo e alma no trabalho missionário”
(cf. KAWANO, 2010). Em setembro de 1919, foi para Tóquio e se preparou para
emigrar. Associou-se a Rikkokai19, uma associação cristã que ajudava e
preparava os japoneses para se adaptarem ao país de destino. Sem apoio da
Igreja20, Ito partiu por conta própria. Por isso, antes de vir ao Brasil, foi
aos Estados Unidos para trabalhar e, assim, juntar dinheiro para a missão. Para
Ito, os Estados Unidos era a colônia do mundo. Estando lá, “seu intuito era
observar e aprender com o trabalho de cultivo dos trabalhadores japoneses que
haviam se instalado lá. Isto o prepararia para a vida e o trabalho na América
do Sul” (KAWANO, 2010, p. 18).
19 Fundada em Tóquio no ano de 1897 pelo reverendo anglicano Hyodaiu Shimanuki
(1866-1913), com o objetivo de elevação material e espiritual do povo japonês,
a Companhia se dedicou aos jovens e principalmente aos estudantes pobres,
efetivou uma colonização planejada. Incutia o desprezo pela bebida e o cigarro
e por pedir favores aos outros, ao mesmo tempo que incentivava o
empreendedorismo, o asseio e a prontidão para ajudar os outros. Todos que
passavam pela Rikkokai recebiam uma bíblia e passavam por algo como uma breve
catequese. A companhia trouxe, a partir de 7 de janeiro de 1923, milhares de
imigrantes ao Brasil. O governo japonês pretendia que cada emigrante fosse um
“embaixador do Japão”, querendo passar para o Ocidente a imagem de um país
civilizado. A Rikkokai parece-nos foi bastante eficaz para que isso ocorresse
(ASSOCIAÇÃO RIKKOKAI DO BRASIL, 1965).
20 Ito escreveu: “E apesar de contar com a proteção de Deus, muitos achavam que
meu plano missionário não passasse de um sonho, uma conversa fiada” (KAWANO,
2010, p. 21).
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Traços nipônicos no rosto do protestantismo brasileiro
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Ito deixou o Japão em dezembro de 1921. No dia seguinte de sua chegada em San
Francisco, encontrou-se com o rev. Junkichi Mori, da Reformed Church. Ito atuou
como pastor auxiliar dessa igreja por alguns meses. Mas a maior parte de seu
tempo nos Estados Unidos, Ito foi trabalhador braçal nas fazendas no interior
da Califórnia, sem domingo ou feriado. Fez uma economia radical, a ponto de
quando mandar alguma carta usar algum envelope que já fora usado anteriormente,
virando-o ao avesso. Assim, Ito conseguiu juntar cerca de 3 mil dólares e
partiu, em fevereiro de 1923, de Nova York com destino ao Rio de Janeiro.
O missionário
“Mas eu tive como ponto de honra não anunciar o Evangelho a não ser onde o nome
de Cristo ainda não fora pronunciado”
Romanos 15,20
Antes dos japoneses, emigraram para o Brasil outro povo oriental, os chineses,
chamados coolies ou chim. A visão de raças que se tinha na época, inspirada
principalmente por Arthur de Gobineau e seu Ensaio sobre a desigualdade das
raças humanas (1853), era de que o chinês era uma raça intermediária entre o
branco e o negro, por isso próprio para ser trabalhador, mas não imigrante,
isto é, muitos deles foram contratados por tempo determinado. Como retrata
Dezem (2005), os chineses eram vistos como indolentes, “raça fraca” e cheios de
vícios (ópio). A China era vista como uma nação cujo progresso havia parado há
mais de mil anos, mas havia uma vantagem neles: ao contrário dos trabalhadores
imigrantes de países europeus, aceitavam ganhar baixos salários. O
empreendimento de empregar chineses na lavoura terminou não dando certo,
devido, no entanto, ao fato de os fazendeiros não estarem prontos para tratar
com homens livres. Tão habituados estavam com os escravos, infligiram castigos
físicos aos coolies, muitos dos quais fugiram e voltaram à sua terra natal.
Ao contrário dos chineses, os japoneses eram vistos como uma raça disciplinada
e o Japão, como o país mais adiantado do Extremo Oriente21. Em 1892, foi
promulgada a Lei n. 97, cujo artigo 1º versava sobre a permissão dada à
imigração japonesa. A partir daí, começaram esforços políticos entre o Japão e
o Brasil a fim de efetivar a imigração. Em 1895, foi assinado pelos dois países
o Tratado de amizade e comércio, marcando oficialmente o início das relações
diplomáticas entre eles. O governo do estado de São Paulo comprometeu-se,
depois, a subvencionar, total ou parcialmente, a passagem dos imigrantes
japoneses (DEZEM, 2005, p. 117). Contudo, foi apenas em 1908 que aportou, em
Santos, o primeiro grupo de japoneses, isto é, dezesseis anos após a lei que
permitia a imigração japonesa. Por que demorou tanto? É que, até então, os
Estados
21 Conforme Dezem (2005, p. 119), com quem concordamos, essa visão se
consolidou com a vitória do Japão na Guerra Russo-Japonesa 1904/1905. Essa
imagem era ambígua, pois se por um lado significava que o japonês era um povo
empenhado e empreendedor, por outro significava que era um “perigo amarelo”.
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Ano XXVII l No 94 l Jul/Dez 2019
Unidos eram para os japoneses um lugar preferível para emigrar. Porém, logo
passaram a ser estigmatizados lá22.
O versículo bíblico que trazemos por epígrafe foi a grande inspiração do
ministério do reverendo Ito, pois era um versículo que lia frequentemente no
tempo de seminário. Ele que lhe deu forças para, às suas próprias custas, sair
do seu país com o intuito de evangelizar os imigrantes japoneses no Brasil.
Quando chegou ao Brasil em 1923, já haviam emigrado para o Brasil 32 mil
japoneses, no mesmo ano em que foi suspenso definitivamente23 o subsídio
paulista para imigração japonesa (DEZEM, 2005, p. 309). A imagem dos japoneses
começava já a mudar perante a sociedade brasileira, algo que Ito já
testemunhara na estadunidense24.
Chegada e início da missão. Em 11 de março de 1923, Ito chegou ao Rio de
Janeiro e se dirigiu a uma capela anglicana próxima à Av. Rio Branco, para
agradecer a Deus por ter chegado em segurança. Leu o trecho bíblico de Miquéias
5,2, que lhe renovou o entendimento de que “mesmo as menores coisas que as mais
humildes pessoas experimentam em seu cotidiano têm a sua essência” e
“emocionado, convicto de ser um missionário, saí da igreja com a mente bem
tranquila” (KAWANO, 2010, p. 28). Partiu em um trem noturno, no dia 12 de
março, para São Paulo, onde se hospedou no Hotel Ueti, no Bairro da Liberdade.
A Liberdade é até hoje, e não só na cidade de São Paulo, mas em todo Brasil, o
bairro oriental por excelência. Foi em uma sala do mesmo prédio, o consultório
do dentista Shinichiro Murakami, que realizou o primeiro culto com seis
japoneses. Na tarde do dia seguinte, foi alugada uma sala na Rua Conde de
Sarzedas por 60 mil réis. Ito ia de porta em porta, na cidade de São Paulo e
arredores, evangelizando. No dia 15 de abril de 1923, realizou o primeiro culto
na sala que alugara, reunindo desta feita 12 pessoas. A reunião seguinte contou
com 30 pessoas, a maioria proveniente da Rikkokai. Um mês depois, porém, o dono
requisitou o imóvel, pois não queria nele uma atividade religiosa que não fosse
católica romana. Mudaram para outro local, mas na mesma rua. Houve um rápido
crescimento do grupo, sobre o que escreveu Ito: “As pessoas vinham e voltavam para
suas casas com uma forte vontade de seguir o caminho e evangelizando. Eles se
tornaram bons missionários, não só no círculo de amizade, mas também falavam de
Jesus Cristo para as pessoas que encontravam no dia a dia” (KAWANO, 2010, p.
32).
O missionário em Registro25. No mesmo mês de março, dia 27, o rev. Ito fez sua
primeira viagem a Registro26. Em 1918 e 1919, começaram a chegar a Registro os
22 Conforme Dezem (2005, p. 234-235), “o governo japonês também alegava que a
distância entre o Brasil e o Japão era muito grande e que os meios de
comunicação eram nulos, correndo-se o risco de que, se a empreitada malograsse,
qualquer companhia de imigração não teria meios pecuniários para pagar as
despesas de repatriação dos imigrantes”.
23 No ano de 1913, o subsídio havia sido suspenso temporariamente.
24 Ito registrou: “Naquela época, os movimentos antinipônicos eram muito
fortes, o que deixava os japoneses residentes nos Estados Unidos muito
apreensivos” (KAWANO, 2010, p. 21).
25 Sobre a imigração em Registro (e em todo o Vale da Ribeira), vide o livro de
Fukasawa (2013) Se o Grão de Arroz não Morrer.
26 Registro se situa a 185km à sudoeste da cidade de São Paulo e ficou
conhecida como “capital do chá” depois da Segunda Guerra Mundial. Beirando a
BR-116, entre as capitais São Paulo e Curitiba, Registro é uma cidade de
planície e, devido à baixa altitude, com umidade o ano todo (FUKASAWA, 2013).
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primeiros japoneses, vindos da mesma região de Ito, Nagano. Ito tinha uma razão
muito especial para visitar esta localidade, pois foi para lá que seus dois
irmãos emigraram. O seu irmão mais velho, Timóteo Kikuzo Ito, havia recebido o
batismo em 25 de dezembro de 1918, antes de deixar o Japão. Ito foi o primeiro
missionário japonês. No entanto, o primeiro culto anglicano realizado entre os
colonos japoneses não foi celebrado por Ito, mas pelo médico Kenzo Kitajima: o
ofício de sepultura do irmão mais velho de Ito, que contraíra uma doença
endêmica e faleceu no dia 11 de janeiro de 1921. Os imigrantes participaram do
rito, mesmo ainda não havendo se convertido. Nessa sua primeira visita, Ito
aconselhou seus familiares sobre o futuro: seu irmão Shozo se casou com a viúva
do irmão falecido e adotou o filho órfão. Seus familiares foram as primeiras
pessoas que Ito batizou em solo brasileiro, no dia 28 de março de 1923. Nessa
visita, Ito também percorreu a colônia, indo de casa em casa para agradecer a
ajuda prestada a sua família. Acreditamos que a comoção que envolvia essa
primeira visita abriu as portas para a eficaz evangelização que Ito promoveu.
Foi em Registro que foi edificada a primeira construção religiosa dos japoneses
no Brasil, o templo da Igreja Anglicana de Todos os Santos.
Evangelismo incansável. O rev. Ito viveu a exortação paulina de proclamar a
Palavra a todo tempo e com toda paciência (2Tm 4,2). No cumprimento de sua
missão, uniam-se firmeza e mansidão. Alguns diziam que Ito pregava muitas vezes
de forma enérgica, mas também “no altar, tinha um rosto bondoso e sereno ao
pregar o sermão. Com os olhos fechados, tinha um ar de santo”, conforme Tokio
Fujii, um dos primeiros fiéis (KAWANO, 2010, p. 136). Quando estava chegando ao
Brasil, Ito conheceu, ainda no navio, um padre católico romano que lhe
encorajou em sua empreitada missionária, ressaltando que por mais inóspito que
fosse o lugarejo, “Deus Pai o acompanhará e o ensinará o que dizer e o que
fazer” (KAWANO, 2010, p. 27). Ito que, para alguns de seus colegas, parecia um
“aventureiro sonhador”, recebeu encorajamento de um padre católico! Durante sua
viagem pelo litoral brasileiro até chegar ao Rio de Janeiro, meditava na vida
de São Paulo e de São Francisco e fez a seguinte oração: “Não permita que eu
fique somente a lamentar a escuridão do mundo” (KAWANO, 2010, p. 26).
Em 10 de maio de 1923, Ito empreendeu uma viagem pelo noroeste do estado de São
Paulo. Essa viagem foi importante para definir a forma como se daria sua
atuação no Brasil. Em Lins, Ito intentou comprar lotes de terra de Shuhei
Uetsuka, fundador das colônias Uetsuka. Este negou a venda, alegando que Ito
deveria continuar pregador itinerante por toda vida, motivo pelo qual não
precisaria de um pedaço sequer de terra. Ito recebeu essas palavras como
orientação do Espírito Santo e, por isso, não ergueu nem um muro nem uma cerca.
Contudo, planejou a missão japonesa, viajou sempre buscando alcançar quantas
pessoas fosse possível. Viajou de trem, cavalo, caminhão, a pé, de carona,
embarcação a vapor. Muitas vezes, perdeu-se nas estradas, suportou a fome e,
sem achar um teto, dormiu ao relento (KAWANO, 2010, p. 41).
Ito estava apto para toda boa obra (2Tm 3,17). Ajudou os agricultores na
colheita27. Com uma máquina que sempre levava na bolsa, cortava os cabelos dos
27 Relata Fukashi Mori que, após lhe ensinar como colher algodão e trabalhar ao
seu lado, o reverendo teria lhe dito: “minha senhora, hoje eu ajudei a senhora
a colher o algodão. Amanhã, à noite, venha ouvir o sermão”. E ela conclui: “Em
nenhum momento, o reverendo perdia a oportunidade de evangelizar” (KAWANO,
2010, p. 51).
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Ano XXVII l No 94 l Jul/Dez 2019
colonos. Na mesma bolsa, levava também, muitas vezes, vacinas e remédios. Deu
aulas de ginástica e promovia sempre gincanas com as crianças. Ensinou a
cozinhar os pratos da culinária ocidental e também etiqueta e boas maneiras.
Foi um casamenteiro, pois os pais muitas vezes pediam para Ito arranjar alguém
para seus filhos. Tendo, por meio de um ex-professor seu do Seminário,
conseguido cartas de recomendação de bispos japoneses ao bispo Kinsolving, do
Brasil, Ito foi recebido na Igreja Episcopal Brasileira. Desde a vinda dos
primeiros missionários, o foco era a evangelização dos brasileiros. Porém, Ito
convenceu Kinsolving da necessidade de evangelizar os imigrantes, cujo número
aumentava a cada dia. No ano de 1923, a única igreja da Comunhão Anglicana em
São Paulo era a dos ingleses, Saint Paul’s Church, que abrigou a missão
japonesa. Ito esforçou-se para que a missão japonesa não se tornasse um quisto
dentro da própria igreja. Nas visitas dos bispos, traduzia os sermões destes do
inglês para o japonês. Em 1929, ficou enfermo e, para se recuperar, viajou para
o Japão, onde ficou hospedado na casa do bispo Naide, que o aconselhou a se
casar com sua filha, Ayako. Voltou para o Brasil casado em 1930 e a família Ito
se instalou no edifício da Capela do Salvador, onde Ito foi coadjutor. Ito
buscava acolher os imigrantes que vinham do interior para São Paulo (alguns
jovens vinham estudar na capital, frequentemente alguém precisava de
atendimento médico). Por isso, comprou o terreno de uma fábrica desativada no
bairro de Pinheiros, onde foi fundada a Paróquia São João, que passou a ser a
sede da missão anglicana japonesa. Os que adoeciam Ito encaminhava para o
Hospital Samaritano, cujo diretor era seu conhecido. O reverendo visitava-os
nos seus leitos, e sua presença era muito esperada pelas crianças no hospital,
devido ao seu bom humor.
Também Ito recebia os imigrantes que chegavam ao porto de Santos. Em 1933, ano
da fundação desta paróquia, Ito também lançou o Boletim Informativo, pois
sentiu a necessidade de recorrer a textos para evangelizar, já que os japoneses
se distribuíam por uma área muito extensa.
Em 1938, Yasoji Ito foi nomeado arcediago pelo bispo William Thomas. Sua função
era auxiliar o bispo na coordenação do trabalho de evangelização junto às
comunidades japonesas. Foi o primeiro diretor-presidente da Federação dos
Cristãos Japoneses. Esforçou-se por promover a cooperação entre cristãos de
diferentes denominações e também cuidava dos pregadores japoneses que vinham ao
Brasil. Fundou, além da igreja em Registro e da Paróquia São João, várias
paróquias e missões no interior do estado de São Paulo e no noroeste do Paraná.
Procurou ser modelo de boas obras (Tt 2,7).
Vocação de outros missionários. Na expressão do reverendo Yuba (1993, p. 51),
“o evangelismo fervoroso faz nascer novos evangelistas”. Ainda para Yuba, o
reverendo Ito era um homem de “absurdos”, pois enviou jovens para estudar no
Japão sem nenhuma garantia se seriam recebidos pelos seminários ou como se
sustentariam, mas apenas crendo que “Deus faria alguma coisa”. Uma parte
importante da liderança é justamente reconhecer talentos e dedicar-se para
formação de novos líderes, conforme o conselho bíblico (2Tm 2,2). Ito
demonstrou ter uma sensibilidade neste aspecto e uma grande capacidade de
inspirar jovens a seguir a “boa tarefa” (1Tm 3,1).
O primeiro a ser recrutado por Ito para a obra missionária foi Paulo Kiyoshi
Iço, professor de japonês para as crianças da colônia onde morava. Acompanhara
Ito alguns http://revistas.pucsp.br/culturateo
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dias no trabalho missionário em Birigui e ficara impressionado com o amor de
Ito pelos imigrantes, começando, a despeito de sua primeira vontade de ser
médico, a desejar ser como ele, o que o fez responder favoravelmente à
interpelação de Ito para que voltasse ao Japão para estudar teologia. Juntou
seu salário de professor e comprou sua passagem de navio para o Japão. Ito
organizou com os pais dos alunos uma festa de despedida para arrecadar o
restante do dinheiro necessário. Quando retornou do Japão foi designado a
trabalhar na Igreja de Todos os Santos de Registro.
Barnabé Guenzo Ono chegara ao Brasil com apenas treze anos e o curso primário
completo. Trabalhou duro, transportando com uma carroça as colheitas dos
imigrantes. Foi com suas poucas economias que comprou a passagem para o Japão.
Ito havia lhe dito: “Vá! Deus fará alguma coisa”, e acompanhou-o até o porto de
Santos. Havia muitas pessoas para acompanhar outros viajantes e apenas Ito
acompanhava Ono. Quando o navio zarpou, Ito ajoelhou-se e ficou orando pelo
rapaz que ia ao Japão sem certezas de que seria recebido por algum seminário.
Do navio, Ono via a figura do reverendo que ficara ali ajoelhado mesmo depois
de todas as outras pessoas terem ido embora. Ono chorou olhando a figura de Ito
até não mais poder ser visto pela distância. No Japão, bateu em muitas portas,
até ser recebido pelo seminário da cidade de Fukuoka, na província de Kyushu,
onde se formou com boas notas.
Takeo Shimanuki era filho do fundador da Rikkokai e havia vindo ao Brasil, aos
seus 18 anos, com a ideia de ficar rico. Seus planos não deram certo, apesar de
sua insistência. O rev. Ito, então, aconselhou: “Shimanuki, é impossível servir
a Deus e ao dinheiro ao mesmo tempo. Desista da ideia de enriquecimento rápido
e trabalhe para a Rikkokai, como fez seu pai”. Shimanuki era vendedor
ambulante. Depois que se tornou missionário, continuou indo de porta em porta,
mas agora carregando a Bíblia dentro de sua bolsa. A Missão Japonesa já contava
com o apoio da Igreja no Brasil. Por isso, Shimanuki e os vocacionados
posteriores não precisaram ir estudar no Japão, mas foram ao Seminário em Porto
Alegre.
Estevam Shigueru Yuba morava na Colônia Aliança28 e ficara impressionado com
Ito desde a primeira visita que ele fez à sua família recém-chegada ao Brasil,
para a qual teve que viajar três dias, partindo da cidade de São Paulo. No dia
seguinte, olhando Ito partir a cavalo, Yuba relata: “achei que havia uma luz
que pairava sobre ele, talvez pelo sentimento de gratidão que eu tinha” (YUBA,
1993, p. 42). Depois, Ito tentou recrutar um membro da família para o
ministério pastoral. O irmão mais velho de Yuba recusou. Os pais de Yuba,
então, lembraram que ele caíra quando criança de uma ponte sobre pedras e
fizeram a promessa de que, se ele se curasse, seria oferecido a Deus. Assim,
Yuba partiu para o seminário após sua mãe lhe costurar uma roupa, pois ele não
tinha uma vestimenta decente para fazer essa viagem.
Paulo Yuji Kanero e Samuel Kumpei Kainuma, membros da Rikkokai, também foram
recrutados por Ito para o seminário, e também Sumio Takatsu, que se tornou um
importante teólogo e chegou a ser sagrado bispo da diocese anglicana de São
Paulo.
28 Ito deu o nome a essa colônia a pedido de dois dos seus fundadores que
queriam um nome da Bíblia. Ito escolheu “Aliança” para expressar a união entre
Brasil e Japão, a cooperação de toda a colônia e a comunhão do homem com Deus
(KAWANO, 2010, p. 64).
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A 2ª Grande Guerra. No período da Segunda Guerra Mundial, houve no Brasil um
recrudescimento da representação negativa do japonês, alvo da desconfiança
oficial e também popular. Os japoneses foram “avaliados como aqueles que trazem
dentro de si um germe, um risco em potencial (…), perigo à segurança do Estado”
(TAKEUCHI, 2008, p. 29). O regime estadonovista investiu contra as comunidades
estrangeiras a partir de 1938: o decreto-lei n. 868, de 18 de novembro de 1938,
concedia ao Conselho de Ensino Primário o poder de nacionalizar as instituições
estrangeiras de ensino, o que resultou no fechamento de escolas japonesas; o
decreto-lei n. 383, de 18 de abril de 1938, proibia-lhes desenvolver atividades
de caráter político, a não ser de cunho cultural, cívico ou beneficente, também
estava proibida a publicação de revistas e jornais; o decreto lei n. 431, de 18
de maio de 1938, criava o Conselho de Imigração e Colonização, que tinha como
função formular uma política imigratória e colonizadora a partir das conclusões
da Antropologia Social, da Biologia Racial e da Eugenia, objetivando selecionar
os imigrantes, impedir a concentração de indivíduos de mesma nacionalidade e a
compra de terras por parte deles (TAKEUCHI, 2008, p. 32, 37-39).
A Igreja Anglicana29 viu-se em um momento difícil, pois no seu seio havia
japoneses, ingleses e norte-americanos, nacionalidades que estavam em conflito
mundial. Houve um abalo na relação entre os reverendos e os japoneses. Conta
Ito que, dentro das missões japonesas, “o bispo [Thomas] se sujeitou a um
tratamento vergonhoso” (in KAWANO, 2010, p. 115). Também o bispo Thomas, muitas
vezes, foi detido pelas autoridades brasileiras que achavam ser ele alemão. O
rev. Shimanuki e o rev. Ito também foram detidos pela polícia em Porto Alegre,
quando voltavam, de navio, para São Paulo do Concílio da Igreja. Tiveram que
descer em Santos. Seus pertences foram revistados. Foram levados à delegacia
onde foram interrogados e ficaram presos. Quando liberados, voltaram de trem
para São Paulo. Os japoneses que tinham aversão aos americanos tiraram seus
filhos da escola dominical e não recebiam Ito quando ia entregar o boletim
informativo.
Para driblar a proibição legal, Ito pediu ao rev. Gaudêncio Vergara ser o
editor responsável do Boletim Informativo, e continuou a editá-lo com o nome de
“O Missionário”, com a primeira página em português. A partir de 20 de julho de
1941, a publicação teve, contudo, de ser paralisada, só retornando em 20 de
dezembro de 1947, com um novo nome: Dendo (evangelização). Para o governo
brasileiro, os cidadãos japoneses que tinham estudos superiores representavam
perigo à segurança nacional, se ficassem em regiões próximas à capital ou ao
litoral. Essa foi a razão porque o rev. Paulo Ito, que estava em Registro, teve
que ir para Maringá. As celebrações em língua japonesa não eram mais
permitidas. Lembra Yuba (1993, p. 72) que “para fazer visitas evangelísticas
tinha que se ter um tipo de ‘autorização de saídas’. Era preciso escrever o
nome da região a ser visitada, para ser investigado, e a autorização tinha até
o período de validade. Até o retorno tínhamos que andar sempre com a
autorização em mãos”.
Em 1940, o Japão comemorou 2600 anos de fundação. Ito foi cumprimentar os
expoentes da colônia que foram assistir as solenidades no Japão, de onde
voltaram maravilhados com sua força. Já prevendo o desfecho da guerra, Ito lhes
respondeu: “De
29 Também a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) passou
por momentos difíceis com membros e clérigos, por serem descendentes de
alemães, sobre suspeita.
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Traços nipônicos no rosto do protestantismo brasileiro
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nada adiantam essas coisas, pois no dia da derrocada do Japão, tudo isso
desaparecerá”. Após a Guerra, os imigrantes japoneses se dividiram em dois
partidos: os que admitiam a derrota do Japão (makegumis) e os que afirmavam a
invencibilidade do Japão (kachigumis) (OZAKI, 1990, p. 19). Estes passaram a
perseguir aqueles. “Uma das consequências, a mais conhecida e dramática, foi a
criação de grupos radicais como a Shindo-Tenmei, formada por japoneses
inconformados com a derrota japonesa na guerra, postura que culminou com a
cisão e o terror entre os imigrantes” (TAKEUCHI, 2008, p. 30). Ito previa a
derrota do Japão porque as notícias que chegavam diziam a mesma coisa, o que
para ele era sinal de manipulação.
Após serem forçados a reconhecer que o Japão perdera a guerra e estava
destroçado, “os que pertenciam ao gupo dos vitoriosos foram facilmente para as novas
religiões, talvez como uma forma de esconder todos esses ressentimentos” (YUBA,
1993, p. 74). Os anglicanos japoneses tinham que tomar uma decisão: “criar seus
descendentes para que fossem educados como bons brasileiros” (YUBA, 1993, p.
73). Ito insistiu para as celebrações continuassem sendo feitas em português,
porque, conta-nos seu filho Pedro Issáo, a nova geração, para ele, deveria “ser
rapidamente integrados à sociedade brasileira” e, para isso, a prática
religiosa “deveria ser a primeira a facilitar esta integração, adotando o
português como língua oficial” (KAWANO, 2010, p. 2). A ideia de Ito encontrou
resistência, inclusive de seu próprio filho, mas prevaleceu contribuindo para
que não houvesse mais igrejas “dos japoneses”, mas paróquias abertas a toda
sociedade.
Últimos Anos. Pouco antes de aposentar em 1957, rev. Ito foi substituído na
Paróquia de São João pelo rev. Yuba. Aposentado, foi para Igreja de Todos os
Santos de Registro, onde atuou ainda por dois anos, depois voltou a São Paulo.
Voltou a fazer parte de Paróquia de São João, atendendo a todos que o
procuravam. Dedicou-se a seus passatempos favoritos, que eram a marcenaria e a
jardinagem. Toda manhã, enquanto teve para isso saúde, cuidava do seu jardim
meditando. Em 7 de julho de 1968, ano da comemoração dos 45 anos da missão
japonesa, Ito recebeu, com quase 80 anos, a Comenda Marechal Rondon da
Sociedade Geográfica Brasileira. Mesmo debilitado fisicamente, a ponto de ficar
com a mobilidade reduzida, não deixou de ir dominicalmente à Paróquia de São
João, pois dava muita importância em receber a comunhão junto de seus irmãos na
fé. Não deixou de fazer isso mesmo quando ficou de cadeira de rodas. Tanta
devoção impressinou muito os paroquianos. Faleceu em 7 de agosto de 1969, de
pneumonia, com quase 81 anos. Seu nome foi dado a praça que fica em frente a
Paróquia de São João.
Razões para o sucesso do ministério de Ito. Um líder espiritual não deveria
jamais recorrer ao hard power para sua ação. Isto é, jamais recorrer a
artífices como medo e coação. O cientista político norte-americano Joseph Nye
(2004) fala de uma forma de liderança que ele chama de soft power. Para ele, o
líder deve propor valores que podem ser compartilhados pela ampla parcela da
comunidade que lidera: “Se o líder representa valores que a maioria das pessoas
desejam seguir, custa menos comandar” (NYE, 2004, p. 6). Sua relação com os
liderados não é estática, mas dinâmica, haja vista não firmada numa
instituição. Por isso, o líder sempre deve buscar o convencimento. http://revistas.pucsp.br/culturateo
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Revista de Cultura Teológica
Ano XXVII l No 94 l Jul/Dez 2019
Embora Nye discuta estes conceitos no plano do poder das relações
internacionais, eles parecem se aplicar a qualquer situação, muito
particularmente à liderança cristã, pois para ele o convencimento requer
simbolismo, atratividade e valores que sejam vistos como legítimos. Ou seja, o
poder do líder está na imagem que passa aos seus liderados. Parece-nos que, no
caso do rev. Ito, ocorreu exatamente a identificação entre os seus valores e os
valores daqueles a quem pretendia evangelizar e prestar auxílio espiritual,
ainda que ele fosse anglicano e se dirigisse a compatriotas budistas em sua
maioria.
Mizuki (1992 apud KAWANO, 2009) aponta, como razões para os excelentes
resultados alcançados, dedicação sem medida, pregações em escolas e locais de
reunião dos japoneses e sermões que falavam direto ao coração dos agricultores.
Sua atividade incluía cortar cabelos, ajudar os colonos na colheita, auxiliar
aqueles que iam do interior para a cidade de São Paulo, aulas de ginástica…
“Planta a tua semente aqui e ali, pois não sabes qual germinará”, diz o
Eclesiastes. Essa variedade de atividades contribuiu para eficácia de seu
ministério. Mas o sucesso de um empreendimento depende não somente da virtú,
mas também da fortuna, como preconizara Maquiavel. Muitos dos imigrantes já
tinham tido algum contato com o cristianismo através da Rikkokai. Foi, contudo,
o fato dos dois irmãos de Ito antecederem sua chegada a Registro, bem como
outros vindos de sua região de Nagano, que lhe abriu as portas para o sucesso
de sua missão. Não foi só no Japão que Ito recebeu apoio da Rikkokai, mas
também durante seu trabalho no Brasil e “além disso, encontrar membros dessa
associação já em São Paulo, favorecia o seu trabalho missionário” (KAWANO,
2010, p. 16). Alguns dos japoneses que vieram já eram também anglicanos.
Há vários testemunhos de que o rev. Ito era um eloquente pregador, falando
sempre com muita emoção e conseguindo se comunicar bem a todas faixas etárias,
inclusive sendo muito amado pelas crianças. Todavia, são outras as suas
características que são apontadas pelos que conviveram com ele como mais
marcantes: seu semblante sempre calmo e sua enorme disposição em sempre ajudar,
bem como sua perseverança em andar vários quilômetros para fazer o seu
trabalho30. Muitos dos japoneses que vinham ao Brasil pensavam que aqui
passariam pouco tempo, fariam fortuna e voltariam ao Japão, razão pela qual não
apresentavam, no início, muito interesse pela religião, apenas pelo trabalho.
Essas expectativas foram frustradas. Daí que a “sede espiritual” passou a se
manifestar.
Um símbolo da atuação do reverendo Ito31
“A nossa carta sois vós”
2 Coríntios 3,2
Como a glória de um pai são seus filhos (Eclo 3,2), assim também a alegria de
um pastor são suas igrejas (3Jo 4). Ito fundou a maior parte das paróquias da
Diocese
30 Yuba (1993, p. 42), por exemplo, testemunha: “não me lembro nada do conteúdo
de seus sermões. Mas as atitudes de amor que demonstrou, ficaram gravadas nos
nossos corações, de uma maneira que nos deu grande força”.
31 Aqui também a principal fonte de informação são os livros de Carmen Kawano
(2008 e 2010).
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Traços nipônicos no rosto do protestantismo brasileiro
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Anglicana de São Paulo. Tomaremos, contudo, como símbolo do que foi sua
atuação, a Paróquia de Todos os Santos, de Registro – SP, cuja construção
iniciou-se em 1928 e terminou em 1929. Trata-se da primeira construção religiosa
dos japoneses no Brasil. Conforme Carmen Kawano (2009), é importante
diferenciar entre comunidades japonesas e comunidades de maioria ou grande
quantidade de descendentes de japoneses. Saliente-se que Ito se esforçou para
que as paróquias que ele fundou e liderou se integrassem à cutura brasileira:
As primeiras são formadas por japoneses propriamente ditos, imigrantes que
vivem no Brasil, mas conservam sua cidadania japonesa, e celebram em japonês.
Nas últimas, os descendentes são cidadãos brasileiros, e são melhores
designados como nikkeis. Naturalmente, nessas comunidades, as celebrações
acontecem em língua portuguesa.
A Paróquia de Todos os Santos localiza-se na área rural, há 15 quilômetros da
cidade de Registro. Tendo sua construção se iniciado em 1927, foi inaugurada em
1929. A cidade de Registro foi reconhecida em 2006, por seu valor para a
história dos japoneses no Brasil. A Paróquia de Todos os Santos, com todos os
seus móveis, foi tombada pelo IPHAN em março de 2013, sobre o número de
processo 1565-T-2008 (INFOPATRIMÔNIO). “O processo de tombamento junto ao IPHAN
foi iniciado pela comunidade nipônica registrense através de sua associação
local, isso representou um interesse muito grande de pessoas de outras
religiões em preservar este belo templo Anglicano” (IEAB, 2010). Conforme
opinião de Mori (1992 apud NASCIMENTO; SCIFONI, 2016, p. 46), a construção de
igrejas católicas em áreas de colonização japonesa no território paulista, como
ocorreu em Registro, Promissão e Álvares Machado, significava mais uma
manifestação da vontade de adaptação ao ambiente brasileiro que propriamente
uma conversão ao catolicismo. Tal não podemos dizer da conversão ao
anglicanismo. Aliás, esse constitui, como o protestantismo de uma maneira
geral, uma espécie de “corpo estranho” à cultura brasileira. Esse fenômeno da
própria condição de imigrante, com todas as afeições e emoções daí advindas,
reforça-se com eles separados por uma instituição religiosa que lhes preste
orientação e auxílio espiritual.
Em Registro, os imigrantes que se tornaram católicos construíram uma igreja
cujo padroeiro é São Francisco Xavier, o missionário jesuíta que levou o
cristianismo ao Japão. Como observara Scifoni e Nascimento (2016, p. 46), no
entanto, “não há referências às técnicas e à estética da arquitetura japonesa”.
Diferentemente, a Paróquia Anglicana de Todos os Santos foi construída com um
aspecto que lembra os templos japoneses. Conjecturamos que isso represente que
a conversão desses japoneses ao anglicanismo se deu dentro de um paradoxo
“ruptura-continuidade”, vendo na liturgia anglicana (principalmente na liturgia
tipo low church32, isto é, evangelical, como era
32 É usual dividir as tendências no seio do anglicanismo como low church (ou
evangelical), high church (ou anglo-católico) e broad church (liberal).
Conforme Chapman (2006, p. 3), “the history of the Church of England from the
18th century is the search for an alternative locus of authority after the
breakdown of the Divine Right of Kings. Some looked for authority in the direct
experience of God in the heart or in God’s Word as set forth in Scripture (the
Evangelicals). Others sought it in God’s appointed messengers, the bishops (the
Anglo-Catholics)”, e também “there were, of course, many churchmen through the
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Revista de Cultura Teológica
Ano XXVII l No 94 l Jul/Dez 2019
própria de Ito33) o mesmo aspecto de sobriedade e disciplina que antes
encontravam no budismo. Assim, concordamos com Scifoni e Nascimento (2016, p.
47) quando dizem que essa “Igreja Episcopal mostra os esforços dos colonos de
manutenção da própria cultura e religiosidade”. Sempre algo permanece naquilo
que se transforma.
O terreno para a construção foi doado pela senhora Assayo Ikegami. Ela estivera
muito doente, mas, após o rev. Ito orar por ela, teve uma melhora incrível. Daí
resolveu fazer a doação. A construção foi feita pelos próprios fiéis e o
material usado, com exceção dos vidros e metais, era o que estava disponível na
comunidade. Optou-se pela técnica japonesa que dispensa pregos. O nome desta
Paróquia foi escolhido devido à imensa saudade que os imigrantes sentiam de
seus parentes (KAWANO, 2008). Na verdade, até hoje são os cultos em memória34
as celebrações mais acorridas pelos nikkeis anglicanos, “hábito ou valor que
vêm da cultura japonesa, de um certo budismo ainda impregnado ou persistente,
que realiza o culto aos antepassados, com a forte idéia de respeito e
agradecimento” (KAWANO, 2009). Embora grande parte da comunidade tenha se
mudado para a cidade e, por isso, a Paróquia de Cristo Rei é hoje onde se
concentra a maior parte das atividades do anglicanismo em Registro, seguem
acontecendo, na Igreja de Todos Santos, atividades mensais e especiais e “seu
estado de preservação é um testemunho do carinho de gerações de anglicanos que
contribuem para enriquecer a diversidade do anglicanismo brasileiro” (IEAB).
Considerações finais
“esse migrante que mora entre vós, tratá-lo-eis como um nativo, como um de vós”
Levítico 19,34
A nosso ver, a atuação missionária do Reverendo João Yasoji Ito constitui um
interessante capítulo na integração dos imigrantes japoneses à cultura
brasileira. Ele foi o primeiro missionário japonês, tanto do cristianismo como
de outras religiões, a vir ao Brasil. O sucesso de seu ministério parece que se
deveu a características próprias de sua personalidade, à variedade de tarefas a
que se dedicou, mas principalmente à sua identificação com os agricultores.
Essa Identificação veio não só de sua história familiar, mas também de sua
experiência de trabalho nas colheitas nos Estados Unidos. As condições
incômodas de vida nas primeiras colônias, a decepção de muitos jovens japoneses
de fazer fortuna e voltar logo ao Japão, a falta de outro líder espiritual de
origem japonesa, uma devoção bastante sóbria, como sóbrio era o budismo por
eles praticado… esses foram
century who were neither Evangelicals nor Anglo-Catholics. They were often
labelled ‘Broad Churchmen’” (CHAPMAN, 2006, p. 86).
33 O background de Ito era completamente evangelical. Vale lembrar que Ito
estudara, na infância, a Bíblia com metodistas e, quando estudava na Escola de
Navegação, enquanto o navio aportava, visitava diferentes igrejas evangélicas.
Chegou até a ser pastor auxiliar de seu amigo rev. Junkichi Mori na Reformed
Church nos Estados Unidos. Já as paróquias com origem nas capelanias inglesas
têm características mais próximas do anglo-catolicismo.
34 Para outras igrejas, essa é uma prática ainda polêmica, mas entendemos
pessoalmente como forma de cumprir o segundo mandamento (Êx 20,12), aquele com
promessa (Ef 6,2) e de dar honra a quem de direito (Ro 13,7).
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Traços nipônicos no rosto do protestantismo brasileiro
Júlio César Tavares Dias
fatores externos que tornaram o público mais aberto à oferta religiosa
anglicana. O caminho de integração desses imigrantes e seus descendentes à
cultura brasileira foi longo e estreito. Ainda há muito a percorrer. O
reverendo Ito foi um dos primeiros a ver a necessidade de trabalhar este ponto,
insistindo para que, depois da 2ª Guerra Mundial, os cultos fossem celebrados
em língua portuguesa. Antes disso, sua atuação foi importante para que os
anglicanos de origem japonesa não formassem um quisto no seio da própria igreja
anglicana no Brasil. Para isso, foram importantes os tempos que passara nos
Estados Unidos. Ainda hoje, porém, passados 110 anos de imigração, os
descendentes desses imigrantes são vistos mais como japoneses do que como
brasileiros.
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