31 de julho - Inácio de Loyola
Nascido Iñigo López de Oñaz y Loyola (Azpeitia, 31 de maio de 1491 — Roma, 31 de julho de 1556), foi o fundador da Companhia de Jesus, uma ordem religiosa católica romana que teve grande importância na Reforma Católica, cujos membros são conhecidos como os jesuítas. Em 2009, a Companhia de Jesus era a ordem religiosa masculina mais numerosa na Igreja Católica.[1]
Biografia
Nascido em 31 de maio de 1491, na localidade de Loiola (em
castelhano: Loyola), no atual município de Azpeitia, a cerca de vinte
quilómetros a sudoeste de São Sebastião, no País Basco, recebeu o nome de Iñigo
López de Oñaz y Loyola.
Inácio foi o mais novo de treze irmãos e irmãs. Sua mãe
faleceu em seus primeiros anos de vida e seu pai faleceu quando tinha dezesseis
anos de idade. Em 1506, tornou-se pajem de um familiar, Juan Velázquez de
Cuellar, ministro do Tesouro Real (contador mayor) do reino de Castela durante
o reinado de Fernando II de Aragão. Iñigo viveu em Arévalo, na casa de seu
protetor de 1506 a 1517. Como cortesão, levou vida leviana.
Com a morte de D. Fernando, Velásquez de Cuellar teve seus
bens apropriados pela rainha D. Germana de Foix. Cuellar faleceu em 1516. Em
1516, Inácio colocou-se a serviço do vice-rei de Navarra, António Manrique de
Lara, Duque de Nájera. Segundo Villoslada[2] "Iñigo de Loyola nunca foi
capitão, nem soldado, nem oficial do exército. Era familiar do duque e seu
gentil-homem". Gravemente ferido na batalha de Pamplona (20 de Maio de
1521), passou meses inválido, no castelo de seu pai. Durante o longo período de
recuperação, Inácio procura ler livros para passar o tempo, e começa a ler a "Vita
Christi", de Rodolfo da Saxônia, e a Legenda Áurea, sobre a vida dos
santos, de Jacopo de Varazze, monge cisterciense que comparava o serviço de
Deus com uma ordem cavalheiresca. A partir destas leituras, tornou-se empolgado
com a ideia de uma vida dedicada a Deus, emulando os feitos heroicos de
Francisco de Assis e outros líderes religiosos. Decidiu devotar a sua vida à
conversão dos infiéis na Terra Santa. Durante esse período, Inácio desenvolveu
os primeiros planos dos Exercícios Espirituais, que iriam adquirir uma grande
influência na mudança dos métodos de evangelização da Igreja; "o moinho
para onde todos os jesuítas são atirados; eles emergem com caracteres e
talentos diversos, mas as marcas impressas permanecerão indeléveis"
(Cretineau-Joly).
Após ter recuperado a saúde, decidiu deixar a casa paterna
em segredo e dedicar-se ao serviço da "Divina Majestade". Dirigiu-se
ao Mosteiro de Montserrat, onde confessou-se durante três dias. Em 24 de Março
de 1522, pendurou seu equipamento militar perante uma imagem da Virgem,
despiu-se de suas roupas vistosas, doou-as a um mendigo e passou a vestir-se
com um tecido de saco. Em breve entrou no mosteiro de Manresa (apenas morou em
um quarto do mosteiro como hóspede, mas não era monge), na Catalunha. Assumiu
então um estilo de vida mendicante, impondo-se rigorosas penitências à imitação
dos santos. Vivia de esmolas, privava-se de carne e vinho, frequentava a missa
diária e rezava a Liturgia das Horas. Costumava visitar o hospital e levar
comida para os doentes.
Em Manresa, teve diversas experiências espirituais e visões
e também passou por diversas provações internas: o desânimo, a aflição e a
"noite escura da alma" (termo cunhado por São João da Cruz, referente
às vicissitudes decorrentes do estado de espírito entre a incerteza e a dúvida
quanto à fé). Passadas estas provações, teve o ânimo renovado diante de novas
experiências espirituais. Conforme narrado em sua autobiografia:
"Estas visões o confirmaram então e lhe deram tanta
segurança sempre da fé, que muitas vezes pensou consigo: se não houvesse
Escritura que nos ensinasse estas verdades de fé, ele se determinaria a morrer
por elas, só pelo que vira".[3]
Também em Manresa, às margens do Rio Cardoner, fez uma
experiência mística, conforme narrou mais tarde ao Pe. Luís Gonçalves da
Câmara:
"Estando ali assentado, começaram a abrir-se-lhe os
olhos do entendimento … Em todo o decurso de sua vida, até os 62 anos de sua
idade, não lhe parece ter alcançado tanto quanto daquela vez".[4]
A Virgem tornou-se objecto duma devoção cavaleiresca.
Imagens militares tomaram grande relevo em sua contemplação religiosa.
A vivência interior deste período deu-lhe a matéria para
escrever os Exercícios Espirituais.
A viagem a Jerusalém
Em 1523, Inácio parte para Barcelona, decidido a ir para
Jerusalém. Conseguiu uma passagem gratuita e as provisões vieram através da
esmola. De Barcelona partiu para Roma, para obter o passaporte pontifício. De
lá, segue para Veneza, onde embarca ao seu destino. Em Jerusalém, foi recebido
pelos franciscanos. Na Terra Santa, visitou os lugares sagrados do cristianismo
e decidiu permanecer vivendo ali. Entretanto, os franciscanos não lho
permitiram e ele embarcou de volta a Veneza, onde chegou em janeiro de 1524.
Seguiu para Barcelona. Diante dos planos frustrados de viver em Jerusalém,
novos ideais surgiram: ajudar as almas. Para isto, decidiu estudar.
Em Barcelona
Em Barcelona, viveu na casa de Inez Pascual, que conhecera
quando esteve da primeira vez na Catalunha. Ali dedicou-se ao estudo do latim e
dedicava-se à ajuda espiritual. Conquistou a estima de muitos e também sofreu
maus tratos pela sua condição mendicante. Ajudou a Reforma do Mosteiro de Nossa
Senhora dos Anjos, fazendo com que as monjas vivessem na clausura. Diversos
cavaleiros e damas importantes vinham ouvi-lo.
A partir daí, Inácio pensa em reunir um grupo de pessoas
para dedicar-se a reformar suas vidas e à Igreja. Reuniu três companheiros, que
não prosseguiram neste projeto.
Após o domínio do latim, seu mestre o aconselhou a procurar
a Universidade de Alcalá para prosseguir seus estudos.
Em Alcalá, a Inquisição
Entrou na Universidade de Alcalá e recebeu abrigo no
hospital Antezana sob os auspícios de Julián Martínez. Os três primeiros
companheiros o seguiram. Aí permaneceu um ano e meio. Além dos estudos, dedicava-se
à pregação e a dar os Exercícios Espirituais. Ganhou suspeita da Inquisição,
que o denunciou ao vigário de Toledo. Era época de perseguição aos hereges
alumbrados, o que levantou as suspeitas sobre Inácio. Inicialmente foi obrigado
a usar vestes comuns. Depois foi preso, durante um mês e meio. Na prisão,
continuava a ensinar e pregar. Por fim, nenhum mal foi encontrado em seus
ensinamentos, mas foi-lhe obrigado vestir-se comumente e proibida a pregação.
Diante disto, Inácio e seus companheiros foram até o
arcebispo de Toledo relatar o ocorrido. O arcebispo manteve a decisão do
vigário, mas abriu-lhe as portas da Universidade de Salamanca.
Em Salamanca, novamente a Inquisição
Vivendo em Salamanca, sua pregação ganhou fama.
Confessava-se habitualmente num convento dominicano. Os religiosos do convento
em contato com Inácio se intrigaram de como ele falava de Deus sem nunca ter
estudado teologia. Isto despertou suspeitas dos dominicanos, que decidiram
interrogá-lo e denunciá-lo. Novamente o peregrino foi preso. O vigário do bispo
e professor da universidade foi visitá-lo e Inácio entregou-lhe o livrinho dos
Exercícios Espirituais para exame. Após este exame por parte de doutores, nada
encontraram que o condenasse. Inácio e seus companheiros foram libertados, mas
proibidos de pregar até concluir quatro anos de estudos. Diante disto, ele
decide seguir sozinho para estudar em Paris. Em 1528, partiu.
Estudos em Paris
Em 1528 entrou para a Universidade de Paris, no Colégio de
Santa Bárbara, onde ficou sete anos e estendeu sua educação literária e
teológica, tentando cativar o interesse dos outros estudantes para os seus
exercícios espirituais. Em 1533, Inácio obtém a licença docente. Em 1534,
tornou-se mestre em artes e tinha seis seguidores[5] — Pedro Fabro, o único
sacerdote do grupo, Francisco Xavier, Alfonso Salmeron, Diego Laynez e Nicolau
Bobedilla, espanhóis, e Simão Rodrigues, português.
Os planos do grupo eram seguir para Jerusalém em 1537.
Fundação da Companhia de Jesus
Em 15 de Agosto de 1534 ele e os outros seis fundaram a
Companhia de Jesus na capela cripta de Saint-Denis, na Igreja de Santa Maria,
em Montmartre, "para efetuar trabalho missionário e de apoio hospitalar em
Jerusalém, ou para ir aonde o papa quiser, sem questionar". Em 1537 eles
viajaram até Itália para procurar a aprovação papal a sua viagem à Terra Santa.
O papa Paulo III concedeu-lhes a aprovação e permitiu que fossem ordenados
padres. Foram ordenados em Veneza pelo bispo de Arbe (24 de Junho).
Inicialmente, dedicaram-se a pregar e a efetuar obras de
caridade na Itália. A guerra reatada entre o imperador, Veneza, o papa e os
turcos otomanos, tornava qualquer viagem até Jerusalém pouco aconselhável.
Os companheiros decidiram esperar um ano na esperança de
conseguirem chegar ao destino almejado. Neste período, iam dois a dois pelas
terras venezianas a visitar prisões e hospitais, catequizar crianças, realizar
obras de caridade.
Na companhia de Fabro e Lainez, Inácio viajou até Roma em
Outubro de 1538, para colocar-se à disposição do papa. No caminho, Inácio
detém-se em oração em uma capela próxima a Roma, La Storta. Neste local, relata
ter feito uma experiência profunda, que marcou decisivamente o futuro do grupo:
viver em Roma.
Os companheiros estabeleceram-se então em Roma, onde
pregavam em igrejas e praças e pediam esmolas nas ruas. Novas suspeitas foram
levantadas sobre o grupo. Acusavam Inácio de fugitivo da Inquisição espanhola.
O peregrino dirigiu-se então ao papa, solicitando que se abrisse um novo
processo. Novamente sua obra foi examinada e nada foi encontrado que o
condenasse.
A nova Ordem
O Papa Paulo III, diante de um mundo em expansão,
necessitava de missionários para terras longínquas, como as Américas e o
Oriente. Contava com os jesuítas para esta tarefa. Além disso, novos
companheiros queriam aderir ao grupo. Diante disto, verificou-se a necessidade
de organizar a nova ordem, por meio de uma regra de vida. Apresentada ao papa,
veio a aprovação verbal em 3 de setembro de 1539. A congregação de cardeais deu
parecer positivo à constituição apresentada, e, em 27 de setembro de 1540, o
Papa Paulo III confirmou a ordem, através da bula Regimini militantis
Ecclesiae, que integra a "Fórmula do Instituto", onde está contida a
parte mais substancial das regras da nova ordem. O número dos seus membros foi
limitado a 60, mas tal limitação foi posteriormente excluída pela bula
Injunctum nobis, de 14 de março de 1543.
Ignatius Loyola.
Em Roma, seu apostolado respondia às necessidades que eram
impostas pela realidade vivida. Dedicava-se à catequese de crianças, fundou a
Casa de Santa Marta, para acolher prostitutas e outra instituição para acolher
donzelas pobres, dava assistência aos órfãos e trabalhava pela conversão dos
judeus de Roma.
Em 1551 criou o Colégio Romano, que viria a ser a atual
Pontifícia Universidade Gregoriana, de ensino gratuito, que, adotando o sistema
parisiense, renovou o ensino na Itália. Com o advento do Papa Paulo IV,
desfavorável a Inácio, a obra passou por dificuldades financeiras. Em prol do sustento
do colégio, a própria ordem teve que passar por muitas privações econômicas,
até que fosse mantida pelo Papa Gregório XIII, 25 anos após a morte do fundador
(daí o nome Universidade Gregoriana).
A Companhia nascente passou por diversas adversidades. Não
possuía nenhuma fonte de renda fixa e era mantida por doações. Além disto, o
novo estilo de vida da ordem despertava suspeitas a ponto de a Universidade de
Paris decretá-la perigosa para a fé. Inácio manteve-se firme diante de todas
estas adversidades e trabalhou intensamente nas Constituições do grupo.
Inácio escreveu as Constituições Jesuítas, adoptadas em
1554, que criaram uma organização hierarquicamente rígida, enfatizando a
absoluta auto-abnegação e a obediência ao Papa e aos superiores hierárquicos
(perinde ac cadaver, "disciplinado como um cadáver", nas palavras de
Inácio). Seu grande princípio tornou-se o lema dos jesuítas: Ad Majorem Dei
Gloriam (pela maior glória de Deus).
Também em 1548, foram impressos os Exercícios espirituais,
objecto de inspecção pela Inquisição romana, tendo sido, no entanto,
autorizados.
Entre 1553 e 1555, Inácio ditou sua experiência espiritual
ao Pe. Gonçalves da Câmara, considerada pelo Pe. Nadal o seu testamento
espiritual. Este texto originou a chamada Autobiografia, que, após a morte do
peregrino, teve algumas cópias manuscritas e uma tradução para o latim.
Entretanto, Francisco de Borja, o terceiro provincial jesuíta, encarregou o Pe.
Ribadeneira de escrever uma biografia oficial de Inácio e proibiu a leitura e
divulgação do texto autobiográfico, por considerá-lo perigoso. Somente em 1929,
este texto foi resgatado e publicado em várias línguas.[6]
Morreu em Roma em 31 de julho de 1556. Nesta data, os
jesuítas eram aproximadamente 1 000, espalhados em 110 casas e 13 províncias.
Eram 35 colégios em funcionamento e mais cinco aprovados.
Os jesuítas foram um grande factor do sucesso da Reforma
Católica.
Em 2009, a Companhia de Jesus constituía-se na ordem
religiosa masculina mais numerosa na Igreja Católica, com cerca de 18 500
membros, distribuídos por 127 países e cerca de 2 900 jesuítas em formação.[1]
Canonização
Foi canonizado a 12 de Março de 1622 pelo Papa Gregório XV.
Festeja-se seu dia em 31 de Julho.
Patrono dos Exercícios Espirituais
Em 1922, poucos meses após ser eleito papa, Pio XI declarou
e constituiu Santo Inácio de Loyola "celestial Patrono de todos os
Exercícios Espirituais e, por conseguinte, de todos os institutos, associações
e congregações de qualquer classe que ajudam e atendem aos que praticam
Exercícios Espirituais".
Exercícios Espirituais no Vaticano
O Papa Pio XI publicou, por ocasião de seu jubileu
sacerdotal, em 1929, a Encíclica "Mens nostra: Sobre os Exercícios
Espirituais",[7] na qual comunicava aos fiéis a sua decisão de estabelecer
anualmente um retiro baseado nos Exercícios Espirituais para o Papa e membros
da Cúria Romana. Desde então, salvo algumas exceções, retiros inacianos são
realizados todos os anos no Vaticano. Inicialmente ocorriam na primeira semana
do Advento. Com o papa Paulo VI, os exercícios passaram a ser realizados na
primeira semana da Quaresma.[8]
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/In%C3%A1cio_de_Loyola
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