15 de
junho - Evelyn Underhill ,
Por Dom Luiz Osório Prado (IEAB-JUNET)
Evelyn
Underhill não é uma figura comum entre os mestres da oração. Ela não foi, como
muitas santas mulheres cristãs o foram, uma freira, mas uma dona-de-casa
inglesa, que viveu toda a sua vida nos subúrbios próximos de Londres. Talvez
por esta razão, seus ensinamentos e exemplo são bem relacionados às
necessidades do povo de fala inglesa que vive nas assim chamadas sociedades
“avançadas”. Ela acreditava e pensava que Deus pode nos alcançar e inspirar
nossas orações, mesmo quando nossas vidas e circunstâncias são praticamente
“comuns” e pouco místicas. Nasceu em 1874, filha de Arthur Underhill, um
conhecido advogado. A família, então, estava estabelecida em Wolverhampton, mas
logo se mudou para Londres onde, em 1907, casou-se com Hubert Stuart Moore,
também advogado. Evelyn manteve seu sobrenome de solteira em sua carreira de
escritora, que começou cedo. Ela já tinha publicado pequenas peças durante sua
adolescência. Não está claro se os livros sobre experiência “mística” ou as
experiências propriamente ditas vieram antes, mas certamente nos primeiros anos
do Séc. XX, Evelyn Underhill, da mesma maneira que outros, durante esse
período, estava intensamente atraída por esta maneira de ver o mundo. Sua
educação religiosa na Igreja da Inglaterra tinha sido formal e sua família
podia se considerada como cristã convencional. Sua rejeição por essa situação e
sua excitante descoberta pessoal dos grandes textos místicos e das
personalidades do Leste e do Oeste, estão incorporadas em todas as suas
publicações de antes da 1ª Grande Guerra, inclusive em três novelas. Muito do
material histórico místico e não-ocidental que a fascinou era, então, difícil
de ser encontrado e ela, pessoalmente, foi uma das primeiras a divulgá-lo e
torná-lo acessível a pessoas comuns. Sua grande contribuição deste período foi
“Misticismo” (1911), mais tarde revisado profundamente e frequentemente
reeditado. Antes de seu casamento, Evelyn Underhill tornou-se católica-romana.
Dúvidas pessoais e a oposição de seu marido, finalmente, fizeram-na retornar à
Igreja da Inglaterra, mas durante certo período, ela sentiu-se como se
estivesse “sem-igreja”. Por volta de 1922, sob a inspiração de um grande
teólogo católico leigo, Frederico Von Hügel, voltou a ser membro comungante da
Igreja da Inglaterra e ambos inspiraram e orientaram muitos anglicanos, que se
sentiam atraídos à prática da oração contemplativa. Von Hügel inspirou muito do
seu pensamento posterior, e foi dele que ela elaborou uma máxima fundamental
para sua conduta em relação àqueles aos quais tinha condições de auxiliar: “A
melhor coisa que podemos fazer por aqueles a quem amamos é ajudá-los a escapar
de nós”. Uma contribuição significativa de seus últimos anos foi seu livro
“Adoração” (1936), que introduzia e analisava a grande tradição dos ritos e
orações públicas, assim como foram herdadas, tanto no Ocidente como no Oriente.
Como orientadora espiritual ou “uma amiga da alma”, Evelyn Underhill
frequentemente encontra-se face a face com aquela sede por uma “experiência”
especial ou privilegiada, a qual ela, pessoalmente, havia conhecido. Ela
tentava direcionar tais buscas para um amor gentil pelos sacramentos e um
tranqüilo auto-abandono em Deus, nas atuais circunstâncias daquelas vidas. Seus
ensinamentos podem ser encontrados em muitos livros pequenos, baseados em seus
retiros e mensagens, em suas cartas e nas memórias daqueles que a conheceram e
compartilharam de sua presença tranqüila e calma sabedoria. Ela gostava de
velejar e de caminhadas pelo campo com seu marido (que não estava, até então,
interessado em sua vida espiritual) e praticava várias artes manuais. Em 1920,
ela tomou parte na tentativa de repensar o relacionamento entre religião e
sociedade, inspirada pelo Arcebispo William Temple; mais tarde, se tornou
jornalista de tempo parcial no “Spectator” e contribuía regularmente para
outros jornais. Ao tempo de sua morte, em 1941, ela era ainda, como tinha sido
desde o começo dos anos trinta, uma cristã pacifista convicta. Evelyn Underhill
comunicou por palavras e testemunho o seu senso especial da incomensurável
realidade da natureza divida invisível no pensamento trinitário, mas não
percebida, na fé cristã. O esforço de sua maturidade tinha sido reconhecer, em
toda a sua força e profundidade, a doutrina cristã concernente à encarnação de Cristo.
Sua docilidade e, finalmente, a alegre culminância de sua fé, e sua dedicação a
isto no aprender e crescer na oração, é uma das marcas do seu desenvolvido
ensinamento espiritual. Ela foi uma mestra da oração numa grande tradição
cristã. Nossa Herança Deus, que permaneces tão decisivamente acima de nossa
vida, fonte de todo o esplendor e de toda a alegria, estás ainda em um contato
muito próximo e carinhoso conosco; e nos levas, através de todo esplendor e
alegria, em direção à verdade. Ele realizou sua criação em nós, quase como que
um desejo ardente para ele próprio, de tal modo que os breves momentos da
eternidade, que algumas vezes nos visitam fazem tudo o mais parecer cinzas e
pó, sem vida e sem valor. Portanto, não pode haver situação em nossa vida, nem
atitudes, nem preocupaçãoes ou relacionamentos que nos impeçam de olhar para
esse Deus de verdade absoluta, e dizer “Pai Nosso” de todos nós e de todas as
outras almas envolvidas. Nossa herança é Deus, nosso Pai e nosso Lar. Nós o
reconhecemos, diz São João da Cruz, porque nós sempre carregamos em nossos
corações um áspero esboço do semblante bem-amado. Olhando para estas
profundezas, tal como para uma silenciosa lagoa numa floresta escura, nós lá
encontraremos olhando para nós a face que, por tanto tempo e implicitamente, já
conhecemos. Ela está num outro mundo, numa outra luz: mas também está aqui. Na
medida em que nos apercebemos disso, nossa oração flui até que ela possa
incluir os extremos de adoração respeitosa e do amor confiante, e tudo isso se
funda numa coisa só. Evelyn Underhill Masters of Prayer
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