02 de junho - James Watson Morris
O Seminário de Virginia nos
Estados Unidos foi sempre um foco irradiador do espírito missionário da Igreja
Episcopal americana. Desde 1830 surgiram missionários enviados em nome de
Cristo e sua Igreja para o Japão, China, Ásia e África.
Dentro do próprio Seminário, entre os próprios estudantes havia un núcleo da
Aliança Missionária de Seminários, do qual era presidente o estudante James
Watsom Morris. Nas imediações do Seminário, residia uma família onde parava
uma filha do Rev. Simonton, pioneiro da Igreja Presbiteriana no Brasil. Através
dessa moça, que conhecia o Brasil, os estudantes vieram a saber muita coisa
sobre nossa Pátria e ficaram entusiasmados. Morris, que pretendia ser
missionário no Oriente, mudou de idéia, optando pelo Brasil. Aproximando-se o
tempo de sua ordenação, foi a Nova York decidir com a direção da Igreja sua
vinda ao Brasil. A Sociedade Missionária, porém, só enviaria dois, a exemplo do
que fez Jesus com a missão dos 70 (Lucas 10).
Enquanto Morris lá se angustiava pelo impasse da falta de um companheiro, por
divina providência, este aparece na pessoa de seu colega Lucien Lee Kinsolving,
que do Seminário telegrafara para a chefia da Igreja, dizendo: “Enviai-me com
Morris. Kinsolving”.
Depois de fracassadas as
tentativas de Martyn em 1805, de Cooper em 1853 e de Holden em 1859, vê-se
Morris realmente ser o pioneiro da Igreja no Brasil. Desde o início ele manteve
sua decisão, enfrentando dificuldades, mas sempre disposto a ir até o fim e
fazer triunfar o seu ideal, como de fato aconteceu.
Finalmente, Morris e Kinsolving foram ordenados ao diaconato em 29 de junho_de
1889 na Capela do Seminário. Por terem de partir em missão, por concessão
especial, foram elevados ao presbiterado em 4 de agosto de 1889. No dia 31
desse mês, embarcaram para o Brasil no vapor Aliança, aqui chegando em 26 de
setembro. Seguiram direto para São Paulo e dali para Cruzeiro, pequena cidade
do interior paulista. Durante seis meses permaneceram em Cruzeiro estudando
português com o Rev. Benedito Ferraz, da Igreja Presbiteriana.
Durante a estadia deles alí
deu-se a proclamação da República do Brasil, pela qual a Igreja Romana deixaria
de ser Igreja Oficial do Brasil, pelo menos no papel. Em 12 de abril de 1890,
os missionários partiram para o Rio Grande do Sul, acompanhados do casal
Boaventura Souza de Oliveira e sua esposa Inês, presbiterianos. Traziam também
do educacionista e filológo Rev. Eduardo Carlos Pereira uma carta de
apresentação ao Sr. Vicente Brande, da Igreja Presbiteriana de São Paulo,
professor que mantinha uma escola mista nas imediações da hoje Beneficência
Portuguesa em Porto Alegre.
Chegaram a Porto Alegre a 21 de
abril de 1890, dia de Tiradentes. Bem recebidos e acolhidos pelo professor
Brande, pediram-lhe que descobrisse uma casa para alugar, onde se estabelecesse
a Missão. Um dia depois já estava alugada a casa de propriedade de um
fazendeiro de Santa Rita do Rio dos Sinos, Coronel Zeferino Fraga, situada à
rua Voluntários da Patria 387, mais ou menos onde hoje fica a casa comercial
Fracalanza.
No dia 1º de junho de 1890,
domingo da Trindade, na Casa da Missão, como passou a denominar-se a sala
adaptada para servir de capela, os missionários celebraram, às 15 horas e 30
minutos, o primeiro ofício religioso da Igreja Episcopal que estavam trazendo
ao Brasil. Foi pregador o Rev. Morris e Kinsolving dirigiu a parte litúrgica.
A partir de então todos os
domingos lá estava a Casa da Missão cheia de gente assistindo aos ofícios. A
partir desse ponto, focaremos mais o currículo de Morris; e depois faremos o de
Kinsolvimg.
Em 3 de fevereiro de 1891, foi
inaugurada_na Casa da Missão, a Escola Americana, um colégio de instrução
primária, à qual mais tarde foi incorporada a Escola Mista do Sr. Brande. Foi o
Rev. Morris, na companhia de Boaventura de Oliveira, que visitaram pela
primeira vez a fazenda dos Fraga em Santa Rita e estabeleceram ali uma missão
da Igreja, a Igreja do Calvário, inaugurada em 15 de março de 1896.
Havia em Rio Grande uma
congregação presbiteriana fundada pelo missionário de origem holandesa, Rev.
Emanuel Van Orden, e dirigida na época pelo Rev. Manoel Antonio Menezes,
presbiteriano. A referida congregação manifestou desejo de se transferir para a
Igreja Episcopal. Depois do acordo entre as partes, foram então recebê-la
em nome da Igreja Episcopal o Rev. Morris e o Sr. Vicente Brande. Fez a entrega
o Rev. Menezes, que deve ter regressado a São Paulo.
O Rev. Menezes era um literato.
O hino 83 de nosso hinário é de sua autoria. Em outubro de 1891 chegaram ao
Brasil mais os missionários Brown e Meem e a profa. Mary Packard.
A esta altura, já haviam
ingressado na Igreja dois moços entusiasmados, Américo Vespúcio Cabral e
Antonio Machado Fraga, que com Boaventura e Brande colaboraram com os
missionários. Morris foi sempre o líder à testa da missão. Sempre dinâmico e
zeloso, inteiramente dedicado ao trabalho. Nos primeiros tempos ficou ele
encarregado da Casa da Missão e da Missão em Santa Rita, auxiliado por
Boaventura de Oliveira. Ao passo que o Rev. Brown, auxiliado por Cabral,
atendia a Missão da rua Riachuelo. O Rev. Kinsolving e Brande atendiam a Missão
em Rio Grande. O Rev. Meem e Fraga estavam organizando a Missão em Pelotas. Os
4 auxiliares leigos foram promovidos a catequistas, Cabral, Brande, Fraga e
Boaventura
A sugestão de criar urna
Comissão Permanente foi também de Morris. Ela foi formada em 1895, para servir
como Autoridade Eclesiástica na ausência do Bispo. Seus componentes eram os
Reverendos Morris, Kinsolving, Brown e Meen, e os Senhores Major Sarmento, de
Santa Rita, Ângelo Catalan, de Rio Grande e Alípio dos Santos, de Pelotas. Foi
de Morris tambem a sugestão de se criar um jornal, e em janeiro de 1893 surgiu
o Estandarte Cristão, cujos redatores eram os Reverendos Morris e Brown.
No 2º Concilio, naquele tempo
chamado Convocação, Morris sugeriu um nome para a Igreja, o qual foi aceito:
Igreja Episcopal Brasileira.
Essa convocação se reuniu na
Capela da Trindade, em abril de 1895.
Em dezembro de 1899, o Rev.
Morris e sua família, acompanhados do Bispo Kinsolving, chegaram a Santa Maria.
Nos dias seguintes fizeram algumas conferências no Salão Nobre da Prefeitura,
cedido pelo Prefeito Coronel Francisco de Abreu Vale Machado, cuja família
depois filiou-se à Igreja.
O Bispo regressou a Porto
Alegre deixando o Rev. Morris encarregado de abrir uma Missão da Igreja em
Santa Maria. Foi então, alugada uma sala na rua do Comércio, hoje Dr. Bozano
54, onde fica a casa comercial “Irmãos Ugalde”. Essa sala foi inaugurada como
Capela no domingo 11 de fevereiro de 1900 pelo Rev. Morris com a presença do
Bispo Kinsolving que de Porto Alegre veio especialmente para esse ato.
No domingo 4 de março,
iniciou-se regularmente a Escola Dominical já com a presença de 20 alunos. O
trabalho cresceu atraindo famílias tradicionais da cidade como os Vale Machado,
os Appel, os Niederauer, os Rolin e outras.
Em março de 1902, por motivo de
doença_da família, o Rev. Morris segue para os Estados Unidos. Só regressando
em 1920 para assumir a reitoria de nosso Seminário em Porto Alegre. Durante os
anos em que esteve em_Santa Maria, o Rev. Morris, auxiliado por alguns
candidatos às Sagradas Ordens, tais como Carlos Sergel e .Julio Coelho, que com
ele estudavam por algum !enpo ali, estabeleceu pontos de pregação no bairro
Itararé, nos distritos de Camobi e Pinhal e nos municípios de Julio de
Castilhos e Restinga Seca. Em 1929, Morris se aposenta e volta novamente para
os Estados Unidos.
Em 31 de março de 1954, falece
o Rev. Dr. James Watson Morris em Richmond, capital do Estado de Virgínia,
Estados Unidos. Seus restos mortais repousam no Cemitério do Seminário do
Virgínia de onde um dia havia partido cheio de esperança e fé para o Brasil.
Morris nos deixou um legado
edificante através de seu fervor missionário, de suas realizações e_de sua fé
inquebrável. Foi ele um homem de visão e de caráter impoluto, inteiramente
voltado ao serviço de Deus através de Sua Igreja. Nestes dias, em que a
religião é tão superficial na vida das pessoas, quando a virtude e o bem são
relegados a uma escala inferior, onde as forças do mal se alastram infrenes, como
é confortador mirarmo-nos no vulto varonil, nobre e santo de James Watson
Morris, Deus o guarde na sua glória.
Obs. Dados biográficos
retirados do livro DADOS BIOGRÁFICOS DO CLERO DA IGREJA EPISCOPAL DO BRASIL de
autoria do Rev. Marçal Lopes de Oliveira, Editado pelo Depto. de Comunicação da
Secretaria Geral da IEAB, 1988
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