História da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil
Os anglicanos celebram a sua liturgia em terras brasileiras desde 1810,
através de várias capelanias espalhadas pelo país e subordinadas à Igreja
da Inglaterra. Essas foram as primeiras igrejas não-romanas estabelecidas nestas
terras.
Entretanto, a igreja voltada especialmente para os brasileiros começou intencionalmente em 1890. Foi nesse ano que dois missionários americanos, Lucien Lee Kinsolving e James Watson Morris, organizaram a missão em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. O primeiro culto foi realizado na tarde do dia 1° de junho de 1890, Domingo da Trindade, em Porto Alegre, na Rua Voluntários da Pátria, 387, numa ampla casa alugada, que ficou conhecida como Casa da Missão. Na época, a cidade tinha aproximadamente 60 mil habitantes. No ano seguinte, chegaram os missionários William Cabell Brown, John Gaw Meem, e a professora Mary Packard. Esses cinco missionários podem ser considerados como os verdadeiros fundadores da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB) em solo brasileiro. Em seguida, estabeleceram missões em Santa Rita do Rio dos Sinos (hoje Nova Santa Rita), Rio Grande e Pelotas. Essas três cidades e a capital do estado logo se transformaram importantes pontos estratégicos e centros irradiadores da expansão e do desenvolvimento da nascente IEAB.
Desde o início, os missionários contaram com a imprescindível
participação de muitos brasileiros. Entre esses intrépidos pioneiros e
destemidos arautos do evangelho estão Vicente Brande, o primeiro a acolher os
missionários em Porto Alegre; Américo Vespúcio Cabral, grande pregador e por
isso conhecido como o "São João Crisóstomo brasileiro"; Antônio
Machado Fraga, que ajudou a fundar a então Capela de Redentor em Pelotas, hoje
catedral diocesana, e depois ele mesmo fundou o trabalho em São Leopoldo e
Montenegro; Boaventura de Souza Oliveira, que se juntou aos missionários ainda
em São Paulo para vir ao Sul do Brasil com a família; Júlio de Almeida Coelho,
que trabalhou a maior parte de seu ministério em Jaguarão e São Gabriel;
Antônio José Lopes Guimarães, fundador da igreja em Bagé; e Carl Henry Clement
Sergel, um ex-bancário inglês que ajudou William Cabell Brown a estabelecer a
igreja no Rio de Janeiro e que construiu as igrejas de Santa Maria e Santana do
Livramento. Esses pioneiros clérigos nacionais ajudaram também a implantar a
igreja em Viamão (1895), Jaguarão (1898), Santa Maria (1900), Bagé (1903), São
Leopoldo (1904), São Gabriel (1906), Rio de Janeiro (1908) e em muitas outras
cidades e zonas rurais, principalmente no Rio Grande do Sul.
Muitos outros vieram depois e implantaram igrejas e capelas em vários lugares do território nacional, seguindo um movimento crescente de expansão da IEAB em direção ao Norte.
O
ministério episcopal no Brasil
Em 1899, a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil teve seu primeiro
bispo na pessoa do revmo. Lucien Lee
Kinsolving. Agora, o tríplice
ministério da Igreja (bispos, presbíteros e diáconos) estava completo. Em 1907,
a nova missão brasileira se transformou em distrito missionário, vinculado
à Convenção Geral da Igreja Episcopal dos
Estados Unidos. Em 1925, a Igreja teve o seu segundo bispo: o revmo. William Matthew
Merrick Thomas, um missionário que havia chegado ao Brasil em 1904. Primeiro como
bispo sufragâneo e depois como bispo diocesano, Thomas consolidou o trabalho
desbravado por Kinsolving. Mas o primeiro bispo brasileiro só veio em 1940, com
a sagração do revmo. Athalício Theodoro Pithan como bispo sufragâneo, quando a
Igreja Episcopal completou 50 anos de atividades no Brasil. Com a aposentadoria
do bispo Thomas, foi sagrado nos Estados Unidos o revmo. Louis Chester Melcher
para ser nosso bispo coadjutor.
A Igreja crescia e as distâncias entre as
comunidades locais aumentavam, dificultando o atendimento das paróquias e
missões espalhadas por todo o país. Era preciso reorganizar o distrito
missionário. Deu-se o início ao processo que resultou na divisão do distrito em
três dioceses. Isso foi em 1950. A nova divisão era formada por três regiões
eclesiásticas: Diocese Meridional, com sé em Porto Alegre (RS); Diocese
Sul-Ocidental, com sé em Santa Maria (RS); e Diocese Central (hoje denominada
Diocese Anglicana do Rio de Janeiro), com sé na ex-capital federal.
Em um primeiro momento, dom Melcher assumiu a
Diocese Central e dom Pithan, a Diocese Meridional. Para a Sul-Ocidental, foi
sagrado o revmo. Egmont Machado Krischke. Já com três dioceses, deu-se o
primeiro Sínodo, reunido em Porto Alegre, em 1952.
A aposentadoria do bispo Pithan e a resignação do bispo Melcher levaram à sagração de mais dois bispos: o revmo. Plínio Lauer Simões, em 1956 e o revmo. Edmund Knox Sherrill, em 1959. Ao primeiro, coube a Diocese Sul-Ocidental (já que dom Krischke havia sido transferido para a Diocese Meridional com a aposentadoria de dom Pithan) e ao segundo, a Diocese Central. Já estavam trilhados os passos que levariam à autonomia provincial do Anglicanismo brasileiro.
Novos
horizontes
Em 1965, veio a autonomia administrativa, quando a Igreja brasileira se
transformou na 19ª Província da Comunhão Anglicana e elegeu o
seu primeiro bispo primaz na pessoa do revmo. bispo Egmont Machado Krischke. O
processo de emancipação da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, até então
dependente da igreja americana, se completou com a independência financeira
adquirida em 1982.
Novas dioceses foram criadas após o desmembramento:
Diocese Sul-Central (atual Diocese Anglicana de São Paulo) em 1969, Diocese
Setentrional (atual Diocese Anglicana do Recife) em 1976, Diocese Missionária
de Brasília (atual Diocese Anglicana de Brasília) em 1985, Diocese Anglicana de
Pelotas em 1988, Diocese Anglicana de Curitiba em 2003 e Diocese Anglicana da
Amazônia em 2006. Há, ainda, o Distrito Missionário do Oeste.
Mulheres começaram a ser ordenadas em 1985, após a decisão favorável à ordenação feminina do Sínodo de 1984. Atualmente, cerca de 30% do clero é composto por mulheres.
Hoje, a IEAB tem templos, missões e instituições
educacionais e assistenciais em mais de 150 diferentes localidades do país,
incluindo todas as regiões (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul). Ao
longo de sua já centenária história, a IEAB acumulou uma relação de mais de 100
mil membros batizados e 45 mil confirmados.
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Adaptado
dos livros "Notas para uma história da Igreja Episcopal Anglicana do
Brasil" de Oswaldo Kickhöfel e "A Igreja Militante",
de N. Duval da Silva
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